João Campos enfrenta desafios para 2026: renúncia arriscada à prefeitura e vantagem de Raquel Lyra podem ameaçar seu favoritismo no governo de PE.

Uma das maiores promessas da esquerda brasileira, João Campos (PSB) vive um momento paradoxal: reeleito prefeito do Recife no primeiro turno em 2024 e dono de uma biografia política de crescimento fulminante, ele aparece como favorito para o governo de Pernambuco em 2026 segundo as pesquisas. Mas, por trás dos números, há dificuldades reais que podem transformar uma campanha aparentemente segura em uma aposta de alto risco, inclusive deixando-o sem mandato.
A renúncia e o risco de ficar sem mandato
O principal obstáculo estratégico para João Campos é a renúncia à prefeitura do Recife. Apesar do amplo apoio registrado nas urnas em 2024, ele precisará deixar o cargo antes do pleito estadual para disputar o governo. Essa manobra, ainda que legal, tem um custo político elevado. Parte do eleitorado pode interpretá-la como traição ao voto recente, algo explorável por adversários em debates e propaganda.
Além disso, ao deixar a prefeitura, Campos perde o cargo eletivo que hoje garante visibilidade e poder de articulação. Se derrotado em 2026, ele ficará sem mandato, algo inédito em sua ainda curta mas intensa trajetória. Esse risco pessoal pode pesar nas alianças e nas estratégias, tanto para ele quanto para o PSB, que tem em Campos seu maior ativo nacional.
O favoritismo aparente nas pesquisas
De fato, pesquisas recentes apontam João Campos com 50% a 70% das intenções de voto para o governo estadual. Esses números refletem sua força eleitoral consolidada na Região Metropolitana, onde é mais conhecido, e o recall familiar dos Campos-Arraes no interior.
Contudo, essa dianteira está longe de ser garantida. Ele enfrentará uma campanha longa, em que será atacado por ter “abandonado” o Recife, e precisará defender a gestão municipal, cujos resultados ainda podem ser questionados. Sua aprovação hoje é alta, mas não imune a desgaste, sobretudo se a sucessão na prefeitura se mostrar frágil ou conflituosa.
A vantagem de Raquel Lyra
Nesse cenário, a governadora Raquel Lyra (PSD) tem uma vantagem considerável: o poder da máquina estadual, sem precisar renunciar. Comandando o estado, pode ampliar bases no interior, distribuir obras e construir alianças em ritmo de campanha sem maiores restrições.
Além disso, Raquel conta com a narrativa de ter derrotado o PSB em 2022 após 16 anos de hegemonia socialista no Palácio do Campo das Princesas. Ela se apresenta como alternativa ao “neocoronelismo” familiar dos Campos-Arraes, e esse discurso ainda ressoa em setores que desejam renovação, ironicamente, o mesmo terreno que João Campos busca ocupar.
A governadora também tem se mostrado hábil em costurar alianças amplas, aproximando-se até de setores que antes orbitavam o PSB. Em 2026, ela poderá ainda se beneficiar do alinhamento com o governo federal, caso Lula continue apoiando sua gestão para manter a governabilidade no estado, mesmo com o PSB na disputa.
Um tabuleiro estadual com reflexos nacionais
Por fim, vale lembrar que a disputa Pernambuco 2026 não será apenas local. Como presidente nacional do PSB, João Campos carrega o peso de projetar seu partido no cenário nacional. Uma derrota fragilizaria o PSB no xadrez político federal, inclusive na composição de alianças com o PT.
Nesse contexto, João Campos precisará decidir se vale arriscar tudo: a prefeitura do Recife, sua liderança estadual e até a presidência do partido, para enfrentar Raquel Lyra em uma campanha que promete ser dura e imprevisível.
CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.