sexta-feira, julho 11

Câmara aumenta vagas e 70% resiste ao fim da escala 6×1

Congresso nacional aprova 531 deputados enquanto 70% rejeitam PEC que acaba com a escala 6×1 para trabalhadores.

Mais deputados federais serão eleitos em 2026, mas proposta para reduzir a escala 6x1 segue travada.
Mais deputados federais serão eleitos em 2026, mas proposta para reduzir a escala 6×1 segue travada. Discussão e Votação de Propostas Legislativas. Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (REPUBLICANOS – PB). Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O Congresso Nacional vive um paradoxo difícil de explicar ao eleitor. De um lado, o Senado aprovou o aumento de 513 para 531 deputados federais a partir de 2026, projeto que agora volta para nova votação na Câmara. De outro, 70% dos atuais deputados se dizem contra acabar com a jornada 6×1, que obriga milhões de brasileiros a trabalharem seis dias seguidos por apenas um de descanso.

Pior: enquanto rejeitam mudar essa regra, os próprios parlamentares atuam em Brasília numa escala generosa — geralmente de 3 dias por semana.

Aumento de deputados: decisão ágil no Congresso

Na quarta-feira (25), o Senado aprovou o projeto de lei complementar com 41 votos a favor e 33 contra.

A proposta cumpre uma ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) para redistribuir as vagas de acordo com o censo do IBGE. O relator Marcelo Castro (MDB-PI) prometeu que não haverá aumento real de custos até 2030, embora críticos questionem essa conta.

Estados que ganham novos deputados:

  • Ceará, Goiás, Minas Gerais e Paraná: +1 cada
  • Mato Grosso, Amazonas e Rio Grande do Norte: +2 cada
  • Pará e Santa Catarina: +4 cada

Veja mais detalhes na Câmara dos Deputados.

Para quem defende o projeto, trata-se de corrigir distorções históricas na representação populacional. Mas a votação rápida contrasta com outras pautas que ficam engavetadas.

PEC de Érika Hilton Proposta para Acabar com Escala 6×1. Foto: Divulgação

PEC do fim da escala 6×1: parada e sem apoio

Enquanto aprova mais cadeiras para deputados, o Congresso não quer discutir a proposta de acabar com a escala 6×1 — que impõe ao trabalhador seis dias de labuta para um de descanso.

Segundo pesquisa do Instituto Quaest, divulgada nesta semana, 70% dos deputados federais são contrários à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reduziria a jornada para quatro dias por semana, com 36 horas totais.

Principais dados da pesquisa Quaest:

  • 70% contra o fim da escala 6×1
  • 22% a favor
  • 8% não sabem/não responderam

Por grupos:

  • Oposição: 92% contra
  • Base do governo: 55% contra, 44% a favor
  • Independentes: 74% contra
  • Esquerda: dividida (49% a favor, 49% contra)
  • Centro: 70% contra
  • Direita: 88% contra

A proposta é de autoria da deputada Erika Hilton (Psol) e segue parada na Câmara desde fevereiro de 2025.

Autora da PEC para o fim da escala 6×1, Dep. Erika Hilton (PSOL-SP). Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Câmara trabalha em escala 3×4

O contraste não poderia ser mais gritante.

  • Trabalhadores pedem o fim da escala 6×1, citando exaustão física e mental.
  • Deputados rejeitam o tema, mantendo a pauta travada.
  • Enquanto isso, eles mesmos cumprem na prática uma escala 3×4, com atividades legislativas concentradas geralmente de terça a quinta-feira em Brasília.

Para muitos, soa como privilégio mal explicado. E expõe uma desigualdade estrutural de quem legisla sobre a vida dos outros sem enfrentar os mesmos desafios.

“A proposta reflete um movimento global por modelos mais flexíveis e qualidade de vida”, defende Erika Hilton.

Já setores empresariais argumentam que o fim da escala 6×1 traria custos adicionais e impacto na produtividade.

Prioridades do Congresso em xeque

Enquanto aprova rapidamente a redistribuição de cadeiras para atender ordem do STF, o Congresso adia o debate sobre o direito ao descanso digno para a população trabalhadora.

Em vez de sinalizar compromisso com pautas sociais, opta por garantir mais assentos no parlamento — ainda que com promessa de custo controlado até 2030.

Vale perguntar: para quem serve a pressa? E por que o mesmo esforço não é aplicado em temas que tocam a vida de milhões?

O Legislativo brasileiro precisa olhar para dentro. Ampliar a representatividade é importante, mas deve vir acompanhado de compromisso real com os direitos dos trabalhadores.

A recusa em discutir o fim da escala 6×1 — enquanto se legisla para ter mais deputados federais — escancara prioridades que nem sempre dialogam com quem pega ônibus lotado, enfrenta jornadas exaustivas e sonha com qualidade de vida.

A sociedade observa. E cobra coerência.

Pergunta que não quer calar: Se o Congresso consegue agir com rapidez para aumentar o número de deputados, por que não demonstra o mesmo empenho para aprovar mudanças que garantam jornadas de trabalho mais humanas para quem o elegeu?

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