Congresso nacional aprova 531 deputados enquanto 70% rejeitam PEC que acaba com a escala 6×1 para trabalhadores.

O Congresso Nacional vive um paradoxo difícil de explicar ao eleitor. De um lado, o Senado aprovou o aumento de 513 para 531 deputados federais a partir de 2026, projeto que agora volta para nova votação na Câmara. De outro, 70% dos atuais deputados se dizem contra acabar com a jornada 6×1, que obriga milhões de brasileiros a trabalharem seis dias seguidos por apenas um de descanso.
Pior: enquanto rejeitam mudar essa regra, os próprios parlamentares atuam em Brasília numa escala generosa — geralmente de 3 dias por semana.
Aumento de deputados: decisão ágil no Congresso
Na quarta-feira (25), o Senado aprovou o projeto de lei complementar com 41 votos a favor e 33 contra.
A proposta cumpre uma ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) para redistribuir as vagas de acordo com o censo do IBGE. O relator Marcelo Castro (MDB-PI) prometeu que não haverá aumento real de custos até 2030, embora críticos questionem essa conta.
Estados que ganham novos deputados:
- Ceará, Goiás, Minas Gerais e Paraná: +1 cada
- Mato Grosso, Amazonas e Rio Grande do Norte: +2 cada
- Pará e Santa Catarina: +4 cada
Veja mais detalhes na Câmara dos Deputados.
Para quem defende o projeto, trata-se de corrigir distorções históricas na representação populacional. Mas a votação rápida contrasta com outras pautas que ficam engavetadas.
PEC do fim da escala 6×1: parada e sem apoio
Enquanto aprova mais cadeiras para deputados, o Congresso não quer discutir a proposta de acabar com a escala 6×1 — que impõe ao trabalhador seis dias de labuta para um de descanso.
Segundo pesquisa do Instituto Quaest, divulgada nesta semana, 70% dos deputados federais são contrários à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reduziria a jornada para quatro dias por semana, com 36 horas totais.
Principais dados da pesquisa Quaest:
- 70% contra o fim da escala 6×1
- 22% a favor
- 8% não sabem/não responderam
Por grupos:
- Oposição: 92% contra
- Base do governo: 55% contra, 44% a favor
- Independentes: 74% contra
- Esquerda: dividida (49% a favor, 49% contra)
- Centro: 70% contra
- Direita: 88% contra
A proposta é de autoria da deputada Erika Hilton (Psol) e segue parada na Câmara desde fevereiro de 2025.
Câmara trabalha em escala 3×4
O contraste não poderia ser mais gritante.
- Trabalhadores pedem o fim da escala 6×1, citando exaustão física e mental.
- Deputados rejeitam o tema, mantendo a pauta travada.
- Enquanto isso, eles mesmos cumprem na prática uma escala 3×4, com atividades legislativas concentradas geralmente de terça a quinta-feira em Brasília.
Para muitos, soa como privilégio mal explicado. E expõe uma desigualdade estrutural de quem legisla sobre a vida dos outros sem enfrentar os mesmos desafios.
“A proposta reflete um movimento global por modelos mais flexíveis e qualidade de vida”, defende Erika Hilton.
Já setores empresariais argumentam que o fim da escala 6×1 traria custos adicionais e impacto na produtividade.
Prioridades do Congresso em xeque
Enquanto aprova rapidamente a redistribuição de cadeiras para atender ordem do STF, o Congresso adia o debate sobre o direito ao descanso digno para a população trabalhadora.
Em vez de sinalizar compromisso com pautas sociais, opta por garantir mais assentos no parlamento — ainda que com promessa de custo controlado até 2030.
Vale perguntar: para quem serve a pressa? E por que o mesmo esforço não é aplicado em temas que tocam a vida de milhões?
O Legislativo brasileiro precisa olhar para dentro. Ampliar a representatividade é importante, mas deve vir acompanhado de compromisso real com os direitos dos trabalhadores.
A recusa em discutir o fim da escala 6×1 — enquanto se legisla para ter mais deputados federais — escancara prioridades que nem sempre dialogam com quem pega ônibus lotado, enfrenta jornadas exaustivas e sonha com qualidade de vida.
A sociedade observa. E cobra coerência.
Pergunta que não quer calar: Se o Congresso consegue agir com rapidez para aumentar o número de deputados, por que não demonstra o mesmo empenho para aprovar mudanças que garantam jornadas de trabalho mais humanas para quem o elegeu?
CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.