MPPE aponta gastos de mais de R$ 3 milhões em festas juninas, enquanto crianças com TEA seguem sem centro de atendimento.

A Prefeitura de Escada, na Mata Sul de Pernambuco, desembolsou mais de R$ 3 milhões nas festividades juninas de 2025. Segundo dados publicados pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) em seu painel de transparência sobre gastos com festas. Os altos cachês pagos a artistas como Léo Foguete (R$ 350 mil), Taty Girl (R$ 300 mil) e Mano Walter (R$ 300 mil) chamaram a atenção.
O valor total informado pelo MPPE foi de R$ 3.057.509,50, apenas com as festas de São João. Outra despesa que causou repercussão foi o pagamento de R$ 700 mil ao cantor Nattan, que se apresentou no evento de emancipação política da cidade, no dia 23 de maio.
Município carece de estrutura para crianças com deficiência
A divulgação dos gastos gerou críticas de moradores e especialistas, que apontam a ausência de investimentos em áreas sensíveis. Como o atendimento a crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outras deficiências.
Hoje, Escada, com cerca de 63 mil habitantes, não conta com um centro especializado municipal para esse público. Famílias enfrentam dificuldades para acessar atendimento multidisciplinar, e muitas precisam se deslocar até o Recife. O que representa um obstáculo adicional, principalmente pela ausência de transporte público adaptado e frequente.
Especialistas estimam custo viável para implantação
Segundo parâmetros do Sistema Único de Saúde (SUS) e da área de educação inclusiva, os custos estimados para construção de um centro especializado — com salas de atendimento, fisioterapia, coordenação e recepção — giram em torno de:
- Nova construção (300 a 600 m²): entre R$ 900 mil e R$ 2,7 milhões
- Adaptação de prédio existente: entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão
- Equipamentos e mobiliário: entre R$ 300 mil e R$ 500 mil
Já os custos mensais operacionais, incluindo equipe multidisciplinar e manutenção, variariam entre R$ 60 mil e R$ 150 mil por mês, contemplando:
- Psicólogos, terapeutas, pedagogos e assistentes sociais
- Transporte, energia, materiais e apoio administrativo
Esses valores indicam que, com os recursos gastos nas festas, seria possível implantar e manter por meses um centro especializado, beneficiando de 50 a 200 crianças — número compatível com a demanda estimada para um município do porte de Escada.
Prefeitura ainda não se posicionou
A reportagem procurou a Prefeitura de Escada, administrada pela prefeita Mary Gouveia (PL), para comentar sobre os critérios utilizados na alocação orçamentária e se há planos para implantação de políticas públicas voltadas ao atendimento de crianças com deficiência. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno.
Investimento público e prioridades
A destinação de recursos públicos para festas é um tema recorrente nos debates sobre gestão municipal. Embora eventos culturais tragam visibilidade, aquecimento econômico temporário e valorização da cultura local, especialistas em políticas públicas alertam para a necessidade de equilíbrio entre entretenimento e atendimento às necessidades básicas da população.
A divulgação dos gastos da Prefeitura de Escada reacendeu o debate sobre prioridades na gestão dos recursos públicos. Enquanto artistas recebem cachês de centenas de milhares de reais, crianças com deficiência seguem sem acesso pleno ao tratamento especializado, o que compromete seu desenvolvimento e qualidade de vida.
A expectativa agora é que a gestão municipal avalie o tema com responsabilidade e dialogue com a sociedade para ampliar investimentos em áreas essenciais como saúde, inclusão e assistência social.
CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.