segunda-feira, fevereiro 3

Ascensão de João Campos: A esquerda está se iludindo com o Prefeito do Recife?

João Campos pode ser o novo líder da esquerda, mas sua postura política está mais próxima do centro do que se imagina.

Mudança de alinhamento: João Campos fez aliança com Aécio Neves em 2014 e agora busca o apoio de Lula para disputar o governo em 2026. – Imagem: Ricardo Stuckert/PR e Redes sociais.
Mudança de alinhamento: João Campos fez aliança com Aécio Neves em 2014 e agora busca o apoio de Lula para disputar o governo em 2026. – Imagem: Ricardo Stuckert/PR e Redes sociais.

O prefeito do Recife, João Campos (PSB), tem sido alvo de admiração por toda a esquerda nacional. A aprovação de sua gestão, aliada a uma comunicação eficaz, transformou-o em um fenômeno político que transcende as fronteiras pernambucanas. Sua linhagem política, sendo bisneto de Miguel Arraes, neto da ex-ministra Ana Arraes e filho do ex-governador Eduardo Campos, lhe garante um DNA político inquestionável. No entanto, apesar da herança de uma família historicamente ligada à esquerda. Sua atuação prática demonstra um alinhamento mais próximo ao centro, ou até mesmo à centro-direita.

O PSB, partido de João Campos, já demonstrou essa guinada ao centro quando trouxe Geraldo Alckmin (ex-PSDB) para compor chapa com o presidente Lula. Além disso, João mantém uma relação próxima com figuras como JHC, prefeito de Maceió pelo PL. Que fez parte da base de apoio de Jair Bolsonaro em 2022. Essa aproximação reflete um pragmatismo político que busca acomodar diferentes espectros ideológicos em benefício da governabilidade e de seus próprios interesses eleitorais.

O Passado e o Presente: João Campos e a Disputa com o PT

Nas eleições de 2020, João Campos enfrentou sua prima Marília Arraes (PT) e não hesitou em adotar uma retórica agressiva contra o Partido dos Trabalhadores. Seu discurso flertou com o antipetismo, explorando pautas morais e religiosas para atrair o voto evangélico, estratégia que a direita frequentemente utiliza. A vitória sobre Marília consolidou sua ascensão, mas também evidenciou que sua postura política não se alinha integralmente à tradição da esquerda pernambucana.

Diferente de Miguel Arraes, que tinha compromissos firmes com a reforma agrária, distribuição de renda e seguridade social, João Campos adota um modelo mais gerencial de administração. Sua gestão é marcada por entregas pontuais na periferia, mas sem a profundidade transformadora que caracterizou as políticas de seus antecessores ligados à esquerda.

O Populismo e a Comunicação como Ferramenta de Poder

João Campos se encaixa no perfil de um político populista contemporâneo. Seu governo assume pautas sociais, mas sem compromissos estruturais que desafiem as desigualdades históricas do Recife. A cidade ocupa a 21ª posição entre as 27 capitais do Brasil no Índice de Progresso Social (IPS) e é a segunda mais desigual do país, segundo o Instituto Cidades Sustentáveis. Esses dados contrastam com a narrativa otimista promovida por sua equipe de comunicação.

Além disso, o déficit habitacional do Recife é de 54 mil moradias, e a gestão de João Campos pouco avançou nessa área. Entre 2021 e 2024, foram entregues apenas 1.272 unidades habitacionais, o menor número das últimas cinco administrações. Em comparação, João Paulo (PT) entregou 4.552 moradias entre 2001 e 2008, e João da Costa (PT) construiu 2.985 entre 2009 e 2012.

Enquanto a habitação recebeu apenas R$ 19,6 milhões dos R$ 204,8 milhões inicialmente previstos no orçamento. A prefeitura gastou R$ 253,8 milhões com festividades culturais, um aumento de 38% em relação à gestão anterior. Isso demonstra uma priorização política que privilegia eventos de grande apelo popular, reforçando sua imagem pública, mas sem atacar questões estruturais que impactam a vida da população mais vulnerável.

A Esquerda Está Se Iludindo com João Campos?

O prefeito do Recife não se define como um político de esquerda. Em entrevista ao UOL durante as eleições de 2024, João relativizou a importância dessa classificação ao afirmar que governa para eleitores que gostam e não gostam de Lula ou Bolsonaro. Essa postura pragmática reforça a ideia de que sua gestão busca ocupar um espaço de centro, dialogando com diferentes segmentos políticos.

Se a esquerda nacional enxerga em João Campos um novo líder para o futuro, é preciso cautela. Sua trajetória indica que ele está mais próximo do modelo de Fernando Bezerra Coelho, que transitou da esquerda para a direita sem hesitação, do que da tradição de seu bisavô Miguel Arraes. O populismo e a eficiência comunicativa podem criar uma imagem sedutora, mas os números mostram que a realidade do Recife está longe de ser uma referência progressista.

João Campos se consolida como um político habilidoso, mas sua identidade ideológica permanece fluida. A esquerda pode até admirá-lo, mas, caso continue se iludindo, pode se surpreender no futuro com as escolhas do jovem herdeiro do clã Campos-Arraes.

Cabo de Guerra entre Lula Cabral e Keko do Armazém Continua

O prefeito do Cabo de Santo Agostinho, Lula Cabral (SD), tem utilizado as redes sociais e a imprensa para denunciar problemas herdados da gestão do ex-prefeito Keko do Armazém (PP). Por sua vez, Keko também tem recorrido às redes para rebater as acusações. No Cabo, o clima de disputa eleitoral está longe de acabar, e a possibilidade de o ex-prefeito, que obteve mais de 54 mil votos, ser candidato a deputado federal tem acirrado ainda mais os ânimos, funcionando como combustível para a reação de seus adversários governistas e aliados de Cabral.

Um soco no estômago do Bolsonarismo

A cassação da deputada federal Carla Zambelli foi um duro golpe para o bolsonarismo. O ex-presidente Jair Bolsonaro expressou sua insatisfação com a decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) durante uma entrevista a uma rádio goiana nesta sexta-feira (31). O TRE-SP determinou a perda do mandato de Zambelli por propagação de desinformação durante as eleições de 2022, tornando-a inelegível por oito anos. Na esquerda a decisão foi comemorada por diversos parlamentares e políticos ligados ao presidente Lula e ao PT.

Pergunta que não quer calar:

João Campos realmente tem uma identidade progressista, ou a esquerda está apenas projetando nele o que deseja ver?

6 Comments

  • João Campos mantém a tradição familiar. Seu pai, aliado do PT, com todo apoio de Lula, ex- Min da Ciência e tecnologia de Lula e para governador de PE., grita em pleno governo petista da Dilma: “…Não vamos desistir do Brasil…”, e, se lança candidato a PR em 2014, concorrendo com a reeleição da PR Dilma!? Seu avô, Miguel Arraes, fazia política com a esquerda e como lider dela, mas eleito governava com a direita, foi assim em Salgueiro, que aliado de Dr. Severino Sá, esquerda, governou com Dr. Romão(direita) e, em Petrolina, aliado dos Barracão(esquerda), governou com os Coelhos(direita), portanto, João Campos herda e dá sequência a tradição e a forma familiar de governar Pernambuco!?A esquerda de PE., é que se acovardou e entregou suas bandeiras de lutas a João Campos, grande equívoco político que fez de João e seu PSB, hegemônicos em Pernambuco!? Realmente, as reformas estruturais de PE., não enxergamos…o futuro dirá o que será!!

  • Elisabete Barbosa De Aquino

    Difícil imaginar o neto de Miguel Arraes e sobrinho de Suassuna não ser de esquerda. Difícil imaginar um candidato nordestino com peso e aceitação não tender e tencionar para os apelos do povo nordestino que é em massa o atual presidente Lula.

  • Dani Biondo Crocetti

    João Campos é um bom prefeito, por isso se reelegeu. É um gestor inteligente, um político carismático, tem um discurso equilibrado. É político, isso é diferente de ser militante. Ele é João Campos e, assim como Lula, entende de como lidar com gente. As bases ideológicas de cada um se esfacelam quando percebem que precisam trabalhar para todos, inclusive para aqueles que não o suportam.
    Eu sinceramente, entendo que João encontrou um caminho bem bacana. Gosto muito dele.

  • Emanuel Robertson Tenório Bandeira

    E desde quando Lula se incomoda com os nordestinos pobres ou da classe media que ele quer acabar.Baboseira esse pais nao tem Esquerda coisa velha e retrogads tem sim,usurpadores do dinheiro do contribuinte,como este que ai esta,levando o pais ao CAOs financeiro e social,repetindo o que seu fantoche fez ate 2015.

  • Ricardo Schroeder Neto

    As vezes deve-se aliar com o inimigo e conseguir os objetivos assim era o pai dele a direita sendo feito de partidos com vários defeitos , nunca João Campos se iria se aliar-se a esses corruptos de direita

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