segunda-feira, novembro 4

Julho Verde alerta para prevenção do câncer de cabeça e pescoço

 

Campanha quer conscientizar sobre importância do diagnóstico precoce

 

Foto:Tânia Rego

A
Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço (ACBG Brasil)
realiza, neste mês de julho, a 7ª Campanha Nacional de Prevenção do
Câncer de Cabeça e Pescoço. Em abril do ano passado, a Lei 14.328
oficializou o período como Mês Nacional de Combate a esse tipo da
doença. A campanha pretende conscientizar a população sobre a
importância do autocuidado e do diagnóstico precoce, de modo a evitar o
crescente número de óbitos e mutilações graves que comprometem funções
vitais dos pacientes, como a fala, respiração, alimentação, visão,
audição e cognição.

A assessora jurídica da ACBG Brasil, Ana Paula Guedes Werlang, disse à Agência Brasil
que a campanha chama a atenção da população para esse câncer, que é
pouco falado e, por isso, não tem abertura para as pessoas compreenderem
a importância da identificação e do diagnóstico precoce”. O tema
escolhido para a campanha de 2023 é “Seu corpo, suas regras”. Segundo
Ana Paula, a escolha se baseou no fato de que “todo desdobramento é
decorrência da nossa escolha. E, por ser um câncer 80% curável, um
diagnóstico precoce significa que, se fizermos escolhas bem acertadas,
com certeza não faremos parte da estatística de óbitos”.

A ACBG Brasil vai mobilizar uma rede de
voluntários para que a campanha deste ano esteja presente em todos os
estados do país, com ações de prevenção, diagnóstico, tratamento e
reabilitação, das quais participarão pacientes, profissionais de saúde,
autoridades e integrantes da sociedade civil. Pelas redes sociais
(instagram @acbgbrasil e facebook @acbgbrasil), será possível acompanhar
as iniciativas e apoiar a campanha, bem como pelo site da associação.

Voluntário

Vitor Gomes operou um tumor na laringe em
2007, no Instituto Nacional de Câncer (Inca), órgão do Ministério da
Saúde. “Já são 16 anos laringectomizado. Ainda continuo sendo paciente
do Inca”, disse. Ele ficou dez anos aposentado e voltou a trabalhar este
ano, em uma empresa que presta serviços à Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz). Vitor atua como voluntário na ACBG Brasil e coordena o Grupo
de Acolhimento ao Paciente Laringectomizado do Rio de Janeiro, também
conhecido como Grupo de Acolhimento a Pacientes com Câncer de Cabeça e
Pescoço (GAL RJ). “Estou superbem, reabilitado, confortável, graças a
Deus”, assegurou.

Vitor Gomes lembrou que o objetivo da
campanha do Julho Verde é chamar a atenção das pessoas que acham que uma
rouquidão por mais de 15 dias é normal. “Não é. É preocupante, e a
pessoa tem que procurar um especialista”. O mesmo ocorre em relação a
uma dor na garganta que é persistente. “Também é um sintoma clássico (de
câncer). Já é um sinal para você se preocupar. A mesma coisa é quando
você tem dificuldade de engolir”. Gomes reiterou que o autocuidado “é
saúde, é sobreviver, é saber viver com saúde. Um diagnóstico precoce
evita mil danos à saúde e o sofrimento”.

Número crescente

O Inca estima para o triênio 2023/2025 o
surgimento de cerca de 40 mil casos novos de cânceres de cabeça e
pescoço por ano, no país. O chefe do Serviço de Cabeça e Pescoço do
Inca, cirurgião oncológico Fernando Dias, observou que esses dados têm
de ser considerados subavaliados, porque o Registro Nacional de Câncer
não consegue listar todos os casos tratados na rede pública e privada de
saúde. Isso ocorre também porque, nas regiões Norte e Nordeste e em
algumas áreas do Sul, existem falhas nessa comunicação. Por isso,
afirmou que as previsões publicadas pelo Inca são mais reflexo da
realidade na Região Sudeste e não do Brasil como um todo. “A gente tem
sempre que considerar esses números subavaliados. É bem mais do que
isso, muito provavelmente”.

Segundo o médico, como grande parte dos
brasileiros não tem acesso à informação, o Julho Verde visa a disseminar
as formas de prevenção, os sinais e sintomas que levam à suspeita
desses tumores, que vão permitir um diagnóstico precoce. Dias destacou
que no final da década de 70, para a grande maioria dos diagnósticos de
câncer de boca, 70% dos pacientes encaminhados para o Inca já estavam
com sintomas avançados da doença. “No início do novo século, vários
trabalhos que foram feitos, inclusive levantamentos com dados desses
registros do Inca, da Fundação Oncocentro de São Paulo, mostraram que
essa realidade não mudou”.

Segundo o especialista, existe muita falta
de informação, inclusive entre os médicos generalistas que atendem nos
ambulatórios gerais. “Porque, em pleno século 21, doentes com câncer de
boca, que você não tem a menor dificuldade em identificar, continuam
chegando, em sua grande maioria, em estado avançado”. Afirmou que tratar
um doente em fase inicial da doença faz toda a diferença. “As chances
de controle e de cura são muito maiores, as consequências do tratamento
são muito menores”.

Sinais

O carro-chefe da especialidade no Inca é o
tratamento de tumores da área chamada de trato aerodigestivo superior,
que envolve boca, faringe (ou garganta) e a laringe, onde estão as
cordas vocais. “Qualquer ferida na boca ou na garganta que perdura por
mais de 15 dias tem que ser vista por alguém que vai avaliar e, em
última análise, fazer biópsia”. Em relação à laringe, o sinal mais
frequente é a rouquidão. Qualquer tipo de alteração nas cordas vocais
vai alterar o padrão de voz do paciente. Em momento posterior, se o
câncer estiver mais avançado, o doente vai começar a sentir falta de ar
ou, se a lesão também acometer a faringe, ele pode ter dificuldade de
deglutir, ou seja, dor ao deglutir e dificuldade de engolir. “Essas
coisas todas chamam a atenção”.

Outro sítio comum de tumores é a pele
exposta: a pele da face e do couro cabeludo, principalmente se o
paciente for calvo. Tendo em vista que o Brasil é um país próximo ao
trópico, onde a população vive exposta às radiações solares e muita
gente anda sem proteção, qualquer tipo de ferida ou nódulo na pele que
não existia tem que ser visto por um especialista, no caso um
dermatologista.

Quanto ao tumor de tireoide, glândula
localizada na parte anterior do pescoço, Fernando Dias destacou que nos
anos recentes foi inserido no check up um exame importante para
avaliar alterações nesse órgão, que é o ultrassom. Além de ser um exame
de baixo custo, o ultrassom pode ser realizado em qualquer situação do
paciente. Esse exame fez com que se entendesse que a doença nodular da
tireoide, que é a manifestação principal do câncer da tireoide, era mais
frequente do que se imaginava. O ultrassom permite que os nódulos sejam
diagnosticados até antes deles serem clinicamente identificáveis.

O nódulo desse tipo de câncer cresce muito
lentamente entre os 20 e os 55 anos de idade e não interfere na função
da glândula. Os sinais que podem elevar a suspeita de um nódulo na
tireoide é que ele apresente crescimento desproporcional em período
relativamente curto ou um nódulo que metastiza para os gânglios
linfáticos do pescoço, e o paciente percebe que tem também caroços nessa
região.

Fatores de risco

Em todos os tipos de câncer de cabeça e
pescoço, a solução indicada é a cirurgia, principalmente, disse Fernando
Dias. O chefe do Serviço de Cabeça e Pescoço do Inca disse que a grande
ênfase que deve ser dada à campanha do Julho Verde é o combate aos
fatores de risco aos cânceres dessas regiões, que são o tabagismo e o
etilismo (consumo de álcool), associados à má higiene oral, ou má
conservação dos dentes, e má alimentação. Dias comentou que a boa
alimentação deve privilegiar o consumo de carne branca, principalmente
de peixe, a chamada carne magra, além de frutas, legumes e verduras.
“Essa é uma alimentação que vai conter determinadas vitaminas e
determinadas substâncias que exercem papel protetor na mucosa como um
todo”.

Agência Brasil

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