sexta-feira, novembro 22

Brasil registra média de um conflito por terra a cada quatro horas em 2022, revela pesquisa da Comissão Pastoral da Terra

Número de camponeses assassinados aumentou e povos indígenas foram os principais afetados pelos conflitos.

Engenho Roncardozinho
Foto: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo
Em 2022, o Brasil enfrentou uma realidade alarmante de conflitos por terra, com a média de um conflito ocorrendo a cada quatro horas, totalizando 2.018 casos no decorrer do ano. As revelações foram feitas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) em sua publicação “Conflitos no Campo Brasil”, que consolidou dados de violência e violações de direitos ocorridas em áreas rurais.
A pesquisa apontou que os conflitos no campo em 2022 envolveram um total de 909.450 pessoas e abrangeram cerca de 80.165.951 hectares de terra. Um dos aspectos mais preocupantes foi o aumento de 30,55% no número de camponeses assassinados em relação ao ano anterior, com um registro de 47 mortes.
Outro dado alarmante foi o crescimento significativo de 273% nas tentativas de assassinato em comparação a 2021, atingindo 123 pessoas. Essa foi a maior quantidade de tentativas de assassinato registradas pela CPT desde o início de seus levantamentos em 1985.
Os povos indígenas foram os mais afetados pelos conflitos por terra no país, representando 28% das ocorrências de violência e violações. Em seguida, destacam-se os posseiros, com 20%, os quilombolas com 16%, os sem-terra com 11%, outras categorias com 16% e os assentados com 9%.

Zona da Mata: epicentro dos conflitos em Pernambuco

A situação em Pernambuco também foi preocupante, especialmente na região da Zona da Mata. Em fevereiro de 2022, o assassinato de Jonathas Oliveira, de apenas 9 anos, no Engenho Roncadorzinho, em Barreiros, chocou o país e expôs o contexto violento vivido pelas famílias de posseiros nessa região. Essa comunidade estava em meio a conflitos por terra, e a tragédia trouxe destaque à luta pela garantia de direitos da população camponesa.
Segundo os dados da CPT, em 2022, a Zona da Mata foi a região pernambucana mais afetada pelos conflitos, respondendo por 52,3% das ocorrências. Na sequência, aparecem a Região Metropolitana do Recife, com 20%, o Agreste, com 18,5%, e o Sertão, com 9,2%.
O agente pastoral e coordenador regional da CPT, Geovani Leão, atribuiu o alto percentual de conflitos na Zona da Mata à expansão extensiva da pecuária na região. De acordo com ele, diversos empresários têm arrendado ou adquirido terras de usinas falidas ou desativadas a preços baixos para impulsionar a criação de gado. Esses empresários são acusados de esbulho de posse, ameaças, perseguições e destruição de lavouras, perpetuando a violência contra comunidades e famílias de agricultores posseiros.
A publicação da CPT também revelou que os posseiros foram a categoria mais afetada pelos conflitos em 2022, registrando 37% das ocorrências. Famílias sem-terra e comunidades pesqueiras foram impactadas em 19% dos casos, seguidas por famílias quilombolas com 14%, pequenos proprietários com 5% e indígenas e assentados, ambos presentes em 3% das ocorrências.
Em Pernambuco, ao longo de 2022, 665 famílias foram vítimas de pistolagem, 235 tiveram suas terras ou territórios invadidos, 652 sofreram ameaças de despejo e 321 roças foram destruídas, evidenciando a extensão do problema no estado.
A pesquisa da CPT serve como um alerta para a urgência de políticas públicas que garantam a segurança e a proteção dos direitos das comunidades rurais, visando reduzir a violência no campo e promover o diálogo entre os diversos setores envolvidos.

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