BNDES e FIDA destinam R$ 1,8 bi a 439 mil famílias no semiárido nordestino em ação que une resiliência climática e pesquisa estratégica.
Nesta terça-feira, o presidente Lula da Silva marcou sua primeira aparição pública após uma cirurgia de quadril para anunciar o Projeto Sertão Vivo. A iniciativa, resultado da parceria entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) das Nações Unidas, visa destinar impressionantes R$ 1,8 bilhão a 439 mil famílias no semiárido nordestino. O objetivo é combater a fome e os impactos das mudanças climáticas.
A cerimônia, realizada no Palácio do Planalto, testemunhou a assinatura do contrato de financiamento entre o BNDES e o FIDA, que disponibilizará recursos para os nove estados da região. Os projetos, aprovados em julho deste ano, se destacam não apenas pelo caráter social, mas também por se constituírem como valiosas pesquisas estratégicas frente ao cenário de eventos climáticos extremos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) também participa dessa empreitada.
A urgência desse esforço conjunto não é à toa. Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, alertou para a gravidade do momento: “Nós tivemos o ano mais quente da história da Terra, o mês mais quente, o dia mais quente da história da Terra agora. E 98% da previsão meteorológica [indicam] que os cinco próximos anos serão ainda mais quentes do que este.” O semiárido nordestino é historicamente marcado por desafios como a escassez de recursos hídricos, o sol intenso e variações de temperatura agravados pelo aquecimento global.
Mercadante reforçou a abordagem do projeto, que não se limita a ações sociais, mas também se transforma em um vasto campo de pesquisa para enfrentar as mudanças climáticas. Isso envolve o uso eficiente da água, a busca e reutilização de recursos hídricos e a produção de variedades de alimentos que promovam a saúde. Além de beneficiar o Brasil, a experiência do Projeto Sertão Vivo servirá de inspiração para a FAO e outras regiões, como a África.
A parceria entre o BNDES e o FIDA busca apoiar projetos que aumentem a resiliência climática da população rural do semiárido brasileiro, abrangendo agricultores familiares, assentados da reforma agrária e comunidades tradicionais, como povos indígenas, fundo de pasto e quilombolas. Eles receberão capacitação e devem adotar práticas que melhorem o acesso à água, impulsionem a produtividade e a segurança alimentar, fortaleçam a resiliência dos sistemas agrícolas, restaurem ecossistemas degradados e reduzam as emissões de gases do efeito estufa.
Inicialmente, o projeto estava planejado para beneficiar apenas quatro estados, mas o BNDES anunciou sua expansão com recursos próprios. Dos fundos alocados, R$ 1,5 bilhão serão destinados aos governos estaduais, enquanto R$ 300 milhões não exigirão reembolso.
O FIDA, uma agência especializada das Nações Unidas, opera com recursos do Green Climate Fund (GCF), um braço da ONU que financia a adoção das metas do Acordo de Paris com juros baixos.
A presença do presidente Lula no evento, após sua cirurgia, demonstra a importância da iniciativa. Ele foi submetido a uma artroplastia total do quadril e a uma blefaroplastia, visando aprimorar sua saúde e mobilidade. Além de Lula, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, também participou da cerimônia no Palácio do Planalto.
O Projeto Sertão Vivo não apenas ressalta a necessidade de ações concretas para combater a fome e as mudanças climáticas, mas também reforça a importância da pesquisa e da colaboração global em face dos desafios que o mundo enfrenta. Nessa parceria, o Nordeste do Brasil se torna um farol de esperança para regiões semelhantes em todo o mundo.
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