Eleição do papa Leão 14 frustra ala conservadora católica dos EUA, apesar de apoio inicial de Trump. Radicais do movimento MAGA veem derrota cultural.

A escolha do cardeal Robert Prevost, de 69 anos, como novo líder da Igreja Católica — agora papa Leão 14 — gerou reações ambíguas nos Estados Unidos. Mesmo sendo o primeiro pontífice nascido nas Américas, a sua eleição surpreendeu e frustrou setores da direita católica americana. Especialmente os simpatizantes do movimento Make America Great Again (MAGA), liderado por Donald Trump.
A primeira eleição papal após Francisco
A eleição ocorreu poucos dias após o funeral do papa Francisco, em 26 de abril de 2025. O conclave teve início logo em seguida e reuniu cardeais de diversas partes do mundo, incluindo nomes ligados tanto a correntes progressistas quanto a vertentes mais tradicionais da Igreja.
Prevost, natural de Chicago e naturalizado peruano após décadas de missão na América Latina, foi escolhido em meio a um cenário de forte presença conservadora no Vaticano. Marcada pela America Week — evento anual de arrecadação promovido pela Papal Foundation.
Peregrinação conservadora em Roma
Durante o período de 29 de abril a 3 de maio, mais de 80 doadores e membros influentes da fundação, chamados Stewards of Saint Peter, realizaram uma peregrinação às basílicas maiores de Roma, coincidindo com o início do conclave.
Liderada pelo cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova York e aliado político de Trump, a missão apresentou doações que somam US$ 14 milhões para projetos católicos. Dolan, conhecido por seu posicionamento conservador, é o novo presidente do conselho da Papal Foundation, que historicamente colabora com o Vaticano.
Essa mobilização alimentou especulações sobre uma possível tentativa de influenciar a escolha do sucessor de Francisco. Segundo reportagem do The New York Times, outras organizações alinhadas à direita católica americana, como o NAPA Institute, também estiveram em Roma durante a semana.
Expectativas frustradas
Apesar do apoio público inicial de Donald Trump, que parabenizou o novo papa, figuras influentes da ultradireita americana manifestaram descontentamento. A ativista Laura Loomer foi uma das primeiras a criticar Leão 14 nas redes sociais. Ela resgatou um antigo tuíte de Prevost, no qual ele pedia orações por George Floyd — homem negro morto por um policial branco em 2020 — como sinal de suposto “marxismo”.
“Que preconceito? Isso é outra forma de escrever overdose de fentanil? Papa marxista”, escreveu Loomer, em tom de ironia.
A postura pública do novo pontífice, que em outras ocasiões defendeu imigrantes e condenou a intolerância, acentuou o desconforto entre os conservadores, muitos dos quais são contrários às políticas de fronteiras abertas.
Steve Bannon, ex-estrategista da Casa Branca e voz ativa da ultradireita, afirmou que a escolha de Prevost foi a “pior possível” para os católicos alinhados a Trump. Em entrevista anterior ao jornalista Piers Morgan, Bannon já previa que Prevost era o candidato dos “globalistas do Vaticano”.
O temor de uma agenda progressista
A tensão entre setores conservadores e a liderança do Vaticano não é novidade. No caso de Leão 14, há um histórico de declarações em favor de grupos marginalizados, incluindo LGBTQIA+, embora ele também tenha feito críticas à ideologia de gênero em documentos anteriores. Esse duplo perfil aumenta a desconfiança entre os tradicionalistas.
Tim Busch, presidente do NAPA Institute, defendeu que os fiéis “reajam” quando a hierarquia da Igreja se distancia do magistério. Já Sean Davis, do portal The Federalist, alertou para um possível avanço da pauta globalista sob o novo papado, mesmo reconhecendo que Prevost não é europeu.
“O novo papa é americano, não europeu ocidental, então errei nesse ponto. Mas temo não ter me enganado quanto ao restante”, escreveu.
O que esperar do papado de Leão 14
Ainda é cedo para definir os rumos do novo pontificado. O papa Leão 14 carrega experiência pastoral em contextos diversos e mantém diálogo com diferentes correntes dentro da Igreja. A escolha de seu nome remete a papas que enfrentaram grandes mudanças históricas, o que pode indicar uma gestão voltada ao equilíbrio entre tradição e transformação.
Pontos principais do novo papa:
- Compromisso declarado com o combate à intolerância;
- Experiência missionária na América Latina;
- Histórico de defesa de imigrantes e marginalizados;
- Relacionamento ambíguo com temas da moral sexual tradicional.
A eleição de Leão 14 marca um momento significativo na história da Igreja Católica, não apenas por ele ser o primeiro papa americano, mas também pelo embate simbólico entre diferentes visões sobre o futuro do catolicismo. Enquanto setores conservadores expressam frustração e desconfiança, outras alas enxergam a possibilidade de continuidade no legado pastoral de Francisco.
O equilíbrio entre tradição e renovação será, provavelmente, o maior desafio do novo papa. Sua liderança pode redesenhar os contornos da Igreja no século XXI — com impactos além dos muros do Vaticano.
CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.