sexta-feira, maio 30

Papa Leão 14 é alvo de ataques da ultradireita dos EUA

Eleição do papa Leão 14 frustra ala conservadora católica dos EUA, apesar de apoio inicial de Trump. Radicais do movimento MAGA veem derrota cultural.

Eleição do papa Leão 14 divide conservadores americanos
Eleição do papa Leão 14 divide conservadores americanos. Foto: Diculgação

A escolha do cardeal Robert Prevost, de 69 anos, como novo líder da Igreja Católica — agora papa Leão 14 — gerou reações ambíguas nos Estados Unidos. Mesmo sendo o primeiro pontífice nascido nas Américas, a sua eleição surpreendeu e frustrou setores da direita católica americana. Especialmente os simpatizantes do movimento Make America Great Again (MAGA), liderado por Donald Trump.

A primeira eleição papal após Francisco

A eleição ocorreu poucos dias após o funeral do papa Francisco, em 26 de abril de 2025. O conclave teve início logo em seguida e reuniu cardeais de diversas partes do mundo, incluindo nomes ligados tanto a correntes progressistas quanto a vertentes mais tradicionais da Igreja.

Prevost, natural de Chicago e naturalizado peruano após décadas de missão na América Latina, foi escolhido em meio a um cenário de forte presença conservadora no Vaticano. Marcada pela America Week — evento anual de arrecadação promovido pela Papal Foundation.

Peregrinação conservadora em Roma

Durante o período de 29 de abril a 3 de maio, mais de 80 doadores e membros influentes da fundação, chamados Stewards of Saint Peter, realizaram uma peregrinação às basílicas maiores de Roma, coincidindo com o início do conclave.

Liderada pelo cardeal Timothy Dolan, arcebispo de Nova York e aliado político de Trump, a missão apresentou doações que somam US$ 14 milhões para projetos católicos. Dolan, conhecido por seu posicionamento conservador, é o novo presidente do conselho da Papal Foundation, que historicamente colabora com o Vaticano.

Essa mobilização alimentou especulações sobre uma possível tentativa de influenciar a escolha do sucessor de Francisco. Segundo reportagem do The New York Times, outras organizações alinhadas à direita católica americana, como o NAPA Institute, também estiveram em Roma durante a semana.

Expectativas frustradas

Apesar do apoio público inicial de Donald Trump, que parabenizou o novo papa, figuras influentes da ultradireita americana manifestaram descontentamento. A ativista Laura Loomer foi uma das primeiras a criticar Leão 14 nas redes sociais. Ela resgatou um antigo tuíte de Prevost, no qual ele pedia orações por George Floyd — homem negro morto por um policial branco em 2020 — como sinal de suposto “marxismo”.

“Que preconceito? Isso é outra forma de escrever overdose de fentanil? Papa marxista”, escreveu Loomer, em tom de ironia.

A postura pública do novo pontífice, que em outras ocasiões defendeu imigrantes e condenou a intolerância, acentuou o desconforto entre os conservadores, muitos dos quais são contrários às políticas de fronteiras abertas.

Steve Bannon, ex-estrategista da Casa Branca e voz ativa da ultradireita, afirmou que a escolha de Prevost foi a “pior possível” para os católicos alinhados a Trump. Em entrevista anterior ao jornalista Piers Morgan, Bannon já previa que Prevost era o candidato dos “globalistas do Vaticano”.

O temor de uma agenda progressista

A tensão entre setores conservadores e a liderança do Vaticano não é novidade. No caso de Leão 14, há um histórico de declarações em favor de grupos marginalizados, incluindo LGBTQIA+, embora ele também tenha feito críticas à ideologia de gênero em documentos anteriores. Esse duplo perfil aumenta a desconfiança entre os tradicionalistas.

Tim Busch, presidente do NAPA Institute, defendeu que os fiéis “reajam” quando a hierarquia da Igreja se distancia do magistério. Já Sean Davis, do portal The Federalist, alertou para um possível avanço da pauta globalista sob o novo papado, mesmo reconhecendo que Prevost não é europeu.

“O novo papa é americano, não europeu ocidental, então errei nesse ponto. Mas temo não ter me enganado quanto ao restante”, escreveu.

O que esperar do papado de Leão 14

Ainda é cedo para definir os rumos do novo pontificado. O papa Leão 14 carrega experiência pastoral em contextos diversos e mantém diálogo com diferentes correntes dentro da Igreja. A escolha de seu nome remete a papas que enfrentaram grandes mudanças históricas, o que pode indicar uma gestão voltada ao equilíbrio entre tradição e transformação.

Pontos principais do novo papa:

  • Compromisso declarado com o combate à intolerância;
  • Experiência missionária na América Latina;
  • Histórico de defesa de imigrantes e marginalizados;
  • Relacionamento ambíguo com temas da moral sexual tradicional.

A eleição de Leão 14 marca um momento significativo na história da Igreja Católica, não apenas por ele ser o primeiro papa americano, mas também pelo embate simbólico entre diferentes visões sobre o futuro do catolicismo. Enquanto setores conservadores expressam frustração e desconfiança, outras alas enxergam a possibilidade de continuidade no legado pastoral de Francisco.

O equilíbrio entre tradição e renovação será, provavelmente, o maior desafio do novo papa. Sua liderança pode redesenhar os contornos da Igreja no século XXI — com impactos além dos muros do Vaticano.

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