Líder da Igreja Católica critica obstáculos a operações de resgate no Mediterrâneo.
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Foto: Franco Origlia/Getty Images |
O Papa Francisco fez uma enfática declaração na última sexta-feira, durante um serviço inter-religioso diante de um monumento em memória daqueles que perderam suas vidas no mar, afirmando que “imigrantes que correm o risco de afogamento no mar precisam ser resgatados” e que essa é uma obrigação da humanidade. O pontífice de 86 anos também denunciou aqueles que impedem os esforços de resgate, chamando seus atos de “um gesto de ódio”.
O pronunciamento do Papa Francisco ocorreu no porto de Marselha, onde ele se reuniu com líderes religiosos e autoridades locais. O arcebispo da cidade, o cardeal Jean Marc Aveline, também condenou políticos que têm dificultado as operações de organizações não-governamentais (ONGs) e seus navios de resgate no Mediterrâneo.
“Não podemos nos resignar a ver humanos sendo tratados como fichas de barganha, presos e torturados de maneiras atrozes”, afirmou o Papa Francisco. “Não podemos mais assistir ao drama dos naufrágios, causados pelo tráfico cruel e pelo fanatismo da indiferença.”
O líder religioso destacou ainda: “As pessoas que correm o risco de afogamento quando abandonadas nas ondas precisam ser resgatadas. É um dever da humanidade; é um dever da civilização”.
ONGs têm relatado obstáculos impostos por governos do Mediterrâneo, que impediram seus navios de deixarem portos e os forçaram a atracar em locais distantes das áreas onde imigrantes geralmente são encontrados. O cardeal Aveline argumentou que “instituições políticas” cometem um “crime tão grave” quanto traficantes de pessoas ao bloquearem equipes de resgate.
O Papa Francisco expressou sua gratidão às ONGs que se dedicam ao resgate de imigrantes, destacando as barreiras que enfrentam: “Muitas vezes eles o impedem de sair porque, segundo eles, falta algo ao barco, falta isso, falta aquilo. Esses são gestos de ódio contra irmãos. Obrigado por tudo que vocês fazem”.
Embora nem o Papa nem o cardeal Aveline tenham nomeado especificamente os governos do Mediterrâneo, a mensagem foi clara. Esta declaração ecoa a primeira visita de Francisco como papa em 2013, na ilha de Lampedusa, onde homenageou imigrantes que perderam a vida no mar e denunciou “a globalização da indiferença”.
De acordo com a UNHCR, a agência de refugiados da ONU, aproximadamente 178.500 imigrantes chegaram à Europa neste ano até agora através do Mediterrâneo, com cerca de 2.500 mortes ou desaparecimentos registrados ao longo do caminho. A Itália, em particular, viu um aumento significativo no número de imigrantes chegando por mar em comparação com o ano anterior.
Operações de resgate por mar na Itália e na Grécia estão sob intensa observação após dois grandes naufrágios. O governo italiano também tem enfrentado críticas por restringir as atividades de navios de resgate gerenciados por instituições de caridade.
Os comentários do Papa Francisco sobre a questão dos imigrantes têm sido alvo de controvérsia, especialmente entre políticos conservadores, como o diretor-geral do partido Assembleia Nacional, Gilles Pennelle, que o acusou de se comportar como um político ou líder de uma ONG, em vez de como um papa.
A visita do Papa Francisco a Marselha faz parte de uma viagem de 27 horas para concluir uma reunião de jovens e bispos católicos da região do Mediterrâneo. Ele também se encontrará duas vezes com o presidente Emmanuel Macron neste sábado, marcando uma visita que continua a destacar a sua defesa dos direitos e da dignidade dos imigrantes.
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