O CUSTO DA FOTOGRAFIA – Ao final do dia 25 de fevereiro a imprensa passou a analisar o ato promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, as opiniões são as mais diversas, mas há um certo alinhamento de que existe um esgotamento nos resultados que esse tipo de ação traz.
Quando lembramos que 25% da população se mantem sobre a direção do bolsonarismo passamos a entender melhor que o ato foi mais do mesmo, não há nenhuma força da sociedade ou eleitoral que tenha se somado nesse movimento. Ali houve a cobrança a sua base e aos beneficiários do seu espólio que com ele se elegeram (vide Tarcísio).
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Mas chama também a atenção a presença do prefeito de São Paulo, que tenta se associar ao eleitorado dessa matriz na capital paulista, e a ausência de vários outros prefeitos, parlamentares e governadores. Dos 13 governadores eleitos em 2022 alinhados a Bolsonaro apenas 4 foram para a Avenida Paulista.
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Não é a primeira manifestação desse tipo realizada pela ultradireita e nem será a última, mas essa sofreu ajustes, tanto nos cartazes quanto nas falas. Mesmo assim, Bolsonaro acaba sempre se complicando quando discursa, não é talhado ao improviso, ontem acabou entregando mais do que no depoimento à PF, admitiu a minuta do Golpe, pediu anistia para os golpistas de 8 de janeiro e para si mesmo.
Ameaçando no discurso com uma mão, acena com a outra para a pacificação, mas em tom de chantagem, baseada no que reúne nas ruas e na tentativa de intimidar o STF e os que hoje governam o Brasil. Nenhuma novidade aqui também, tal narrativa e formato foram marcas de seu governo.
O que mais preocupa é que o maior mal que o ato faz é tentar reabrir a chaga da polarização, de buscar personificar na esquerda, nos comunistas, nos socialistas e nos democratas a ideia de um inimigo a ser combatido. O bolsonarismo faz isso conseguindo algo que nunca tinha sido visto nessa proporção na História da República do Brasil, ele atrai e organiza o que há de mais conservador e reacionário no país: os que topam ir às ruas defender um ex-presidente acusado de golpe, de roubo e mais uma montanha de coisas.
O Brasil carrega essa marca, fomos o último país das Américas a acabar com a escravidão, temos uma segregação de classes radicalizada, uma distância enorme entre pobres e ricos. As forças conservadoras sempre tiveram presença expressiva por aqui. Mas também têm os democratas e nacionalistas, aqueles que entendem que o Brasil precisa de conciliação sim, mas não baseada na chantagem, e sim em um projeto nacional de distribuição de renda, ampliação de direitos e de mais democracia.
O ato de ontem fica no ontem, reforça a o que sempre marcou o bolsonarismo, dá ao ex-presidente o que ele pediu: uma boa fotografia, mas ao custo de mais prejuízos para o tecido de nossa democracia. O Brasil segue na luta incessante por repactuar nossa sociedade e combater incessantemente qualquer tentativa de ataque golpista a democracia. Para Bolsonaro, a Lei.
Thiago Modenesi é Bacharel em Direito, Licenciado em História e Pedagogo, Especialista em Ciência Política, Doutor em Educação, Professor da UFPE.
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