Louvre vira palco do frevo na estreia de filme brasileiro

Frevo invade Paris em estreia internacional do novo filme de Kleber Mendonça Filho.

O frevo, Patrimônio Imaterial da Humanidade, ganhou as ruas de Paris neste sábado (5) em uma ação da Prefeitura do Recife. A apresentação antecedeu a exibição de “O Agente Secreto”, novo filme do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho, no encerramento do festival ao ar livre Cinéma Paradiso Louvre.

Com todos os 2.500 ingressos esgotados semanas antes do evento, o público acompanhou um cortejo vibrante com a Orquestra Popular do Recife. Sob regência do maestro Ademir Araújo, o grupo de dança Guerreiros do Passo e apresentações dos cantores Almério e Flaira Ferro.

Uma celebração cultural em Paris

A ação foi considerada uma surpresa para o público parisiense. Antes da sessão, os metais da Orquestra Popular do Recife anunciaram o cortejo no pátio em frente ao Louvre. A clarinada inicial quebrou o silêncio da plateia e chamou atenção para a força do frevo como expressão cultural pernambucana.

Entre as músicas executadas ao vivo estavam clássicos instrumentais como:

• “Três da Tarde”, de Lídio Francisco e Lídio Macacão
• “Relembrando o Norte”, de Severino Araújo
• “Vassourinhas”, de Joana Batista e Matias da Rocha

No palco principal, Almério e Flaira Ferro apresentaram um repertório que passeou por clássicos do frevo e da música nordestina. Como “Frevo Mulher” (Zé Ramalho), “Voltei Recife” (Luiz Bandeira) e “Pagode Russo” (Luiz Gonzaga). O encerramento contou com “Ciranda de Maluco”, de Otto.

Para completar a ambientação, o público recebeu sombrinhas de frevo e leques com a frase “Luz, Câmera, Frevo” em francês e português, reforçando o caráter festivo e interativo da ação.

Recife e sua relação histórica com o cinema

A escolha de Paris para celebrar o filme não foi por acaso. Conhecida como o berço do cinema, a cidade reforça o elo entre o Recife e a sétima arte. A capital pernambucana tem tradição cinematográfica desde o Ciclo do Recife, nos anos 1920, e se consolidou nas últimas décadas como referência no cinema brasileiro.

Kleber Mendonça Filho, diretor de “O Agente Secreto”, é um dos nomes mais reconhecidos internacionalmente, com filmes premiados em festivais como Cannes. Após a passagem por Cannes, onde Wagner Moura foi premiado como melhor ator e o próprio diretor levou o prêmio de melhor direção, Mendonça Filho esteve no Recife em reunião com o prefeito João Campos.

Segundo a Prefeitura, o prefeito participou pessoalmente das articulações para o evento com o cônsul francês em Recife, Serge Gas, e o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, ambos presentes no encontro.

Pontos de vista e impactos culturais

Autoridades locais destacam que a iniciativa promove a imagem do Recife no exterior, valorizando o turismo cultural e o intercâmbio artístico. Em nota, a Prefeitura do Recife afirmou que a ação reforça o compromisso de projetar o Carnaval e o frevo como patrimônios globais.

Para críticos de cinema e cultura, a junção de música, dança e cinema em um só evento amplia o alcance do filme e fortalece a identidade cultural brasileira. Ao mesmo tempo, há quem questione os custos e a prioridade de investir em ações internacionais quando há desafios locais a serem enfrentados, pedindo mais transparência sobre orçamentos.

A gestão municipal declarou que o evento contou com parcerias institucionais e culturais, sem detalhar publicamente os valores investidos.

A noite de sábado no Louvre transformou-se em palco para o frevo, levando a cultura popular recifense para o centro de Paris e marcando o début de “O Agente Secreto” em circuito aberto. Com música, dança e cinema reunidos, a ação buscou não apenas promover um filme, mas consolidar a imagem do Recife como cidade criativa, conectada ao mundo.

Para quem defende a iniciativa, é um passo importante na internacionalização da cultura local. Já para críticos, o desafio está em garantir equilíbrio entre promoção externa e atenção às demandas internas.