Com Selic em 15%, investidores lucram mais, enquanto crédito, emprego e consumo ficam mais difíceis para os pobres.

O aumento da taxa Selic para 15%, decidido pelo Banco Central, é mais um capítulo de uma política monetária que protege o capital financeiro, mas sacrifica a maioria da população brasileira. Sob o argumento de conter a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) repete uma velha receita: elevar os juros para esfriar a economia. O problema é que, enquanto os grandes investidores celebram, quem paga a conta são os mais pobres.
Quem lucra com a Selic alta?
O principal grupo beneficiado com a nova alta da Selic é o dos rentistas, ou seja, aqueles que vivem de aplicar seu dinheiro em títulos públicos e outros investimentos atrelados aos juros básicos da economia. Cada ponto percentual de aumento significa bilhões a mais em remuneração para fundos de investimento, grandes bancos e detentores de capital financeiro.
Os títulos públicos, por exemplo, passam a render mais. Quem tem milhões ou bilhões aplicados em Tesouro Selic, CDBs ou fundos DI verá seus ganhos crescerem sem fazer esforço. O sistema financeiro é, historicamente, o maior defensor dessa política de juros altos, que garante lucros fáceis e seguros.
E quem perde com a Selic a 15%?
Enquanto o capital financeiro lucra, os trabalhadores, microempreendedores e, principalmente, a população mais pobre enfrentam os efeitos colaterais.
A Selic elevada encarece todas as formas de crédito: empréstimos pessoais, parcelamentos, financiamentos de veículos, cartões de crédito e até o crédito consignado, usado por aposentados e servidores. O impacto é direto no bolso de quem precisa recorrer ao crédito para cobrir despesas básicas ou investir em pequenos negócios.
Além disso, o aumento da Selic esfria o consumo, desestimula o investimento produtivo e ameaça a geração de empregos. Empresas de todos os tamanhos passam a adiar contratações, cortar produção e, em alguns casos, demitir funcionários. O ciclo é perverso: o país trava o crescimento, mas a inflação, que o Banco Central tenta combater, permanece resistente, principalmente nos itens que mais afetam os pobres, como alimentos e energia.
A inflação tem outras causas
É importante lembrar que a inflação brasileira atual não é movida por excesso de demanda, mas por choques de oferta, alta de custos e fatores externos. Mesmo assim, o Banco Central insiste em aplicar uma política que mira no consumo popular para tentar controlar preços que, muitas vezes, têm origem em fatores que os juros altos não alcançam.
Enquanto isso, áreas fundamentais como saúde, educação e infraestrutura sofrem com os cortes, já que o aumento da Selic encarece também a dívida pública. O governo precisa destinar mais recursos para pagar juros, reduzindo o espaço para políticas públicas.
Uma escolha política, não apenas técnica
É preciso reconhecer que a decisão de manter os juros em patamares tão altos é, antes de tudo, uma escolha política. O Banco Central opta por proteger os interesses do mercado financeiro em detrimento do bem-estar social.
Alternativas existem: políticas de controle de preços, incentivo à produção, reforma tributária justa e estímulo ao investimento produtivo. Mas, enquanto a prioridade for garantir lucros aos rentistas, a conta continuará chegando para quem menos pode pagar.
A nova alta da Selic não é apenas um número técnico em relatórios do Banco Central. É uma decisão que agrava a desigualdade social, dificulta o acesso ao crédito, freia a economia real e coloca um peso ainda maior sobre os ombros da população mais pobre. Quem ganha são os mesmos de sempre: os donos do dinheiro.
Pergunta que não quer calar: Até quando a maioria dos brasileiros vai pagar a conta para garantir os lucros de uma minoria que vive de juros?

CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.