Reunião definiu que PEC da impunidade terá prioridade, deixando anistia de 8 de janeiro para discussão posterior.

A reunião de líderes da Câmara dos Deputados realizada nesta terça-feira (16) resultou no avanço da chamada PEC da impunidade, também conhecida como PEC da blindagem ou das prerrogativas. A decisão marcou a definição de prioridades para a pauta legislativa, deixando para amanhã uma nova rodada de discussões sobre a proposta de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
Segundo relato da deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), presente no encontro, a tendência é de que o texto da PEC volte praticamente aos moldes da Constituição de 1988. A movimentação ocorre em um momento de forte pressão popular e de críticas da sociedade civil, que veem na medida uma tentativa de autoproteção parlamentar.
O que prevê a PEC da impunidade
A PEC da impunidade estabelece que deputados e senadores só possam responder a processos criminais mediante autorização das próprias Casas Legislativas. Na prática, isso ampliaria a proteção dos parlamentares, dificultando o avanço de investigações contra eles.
Atualmente, a Constituição já prevê imunidade parlamentar em relação a opiniões, palavras e votos. A nova proposta, no entanto, amplia esse alcance, criando um regime considerado por críticos como um “escudo de impunidade”.
Os defensores da PEC afirmam que a medida fortalece a independência do Legislativo, evitando perseguições políticas por meio do Judiciário. Já opositores destacam que o texto não responde a demandas urgentes da sociedade e apenas reforça mecanismos corporativos de blindagem.
Pressão popular e críticas externas
A tramitação da PEC ocorre sob forte pressão popular. Diversos movimentos sociais e entidades da sociedade civil afirmam que a proposta transmite uma mensagem de afastamento entre representantes e representados, em um contexto no qual cresce a cobrança por mais transparência e responsabilidade no exercício do mandato parlamentar.
Entre as críticas recorrentes estão:
- A criação de privilégios que não se aplicam a outros cidadãos.
- O enfraquecimento das instituições de controle, como Ministério Público e Judiciário.
- A priorização de interesses corporativos em detrimento das demandas sociais urgentes, como saúde, educação e segurança.
Para especialistas em ciência política, a aprovação da PEC poderia agravar a desconfiança nas instituições e ampliar a percepção de crise de representatividade.
Adiamento da anistia de 8 de janeiro
Outro tema que estava previsto na pauta da reunião foi a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, quando ocorreram invasões e depredações das sedes dos Três Poderes, em Brasília.
O assunto, contudo, foi adiado para amanhã. O impasse em torno da anistia reflete divisões internas entre os partidos e a preocupação de líderes em não ampliar o desgaste político diante da opinião pública.
Segundo relatos, parte dos parlamentares avalia que aprovar a anistia neste momento poderia ser interpretado como afrouxamento do combate a atos antidemocráticos, enquanto outra ala defende que o tema deve ser enfrentado como forma de pacificação política.
Divergências dentro do Congresso
Mesmo com a priorização da PEC da impunidade, ainda não há clareza sobre qual será o texto final a ser levado a votação. As versões em circulação apresentam diferenças importantes, que vão desde a extensão da imunidade parlamentar até os mecanismos de autorização para processos criminais.
Essa falta de definição aumenta a percepção de insegurança jurídica e reforça a interpretação de que a pauta está sendo conduzida de forma estratégica e política, em busca de consensos internos que preservem a imagem do Congresso.
Contexto histórico e comparações
A imunidade parlamentar é uma prática presente em diversas democracias, com o objetivo de proteger a independência do Legislativo. No entanto, os limites dessa proteção variam de país para país.
- Na França, por exemplo, parlamentares podem ser processados mediante autorização judicial, sem necessidade de aval legislativo.
- Na Alemanha, a imunidade é mais restrita e pode ser suspensa em casos específicos de flagrante delito.
- No Brasil, a Constituição de 1988 já confere garantias amplas, mas a PEC em discussão tende a ampliar ainda mais esses mecanismos.
Para estudiosos do direito constitucional, o risco é que essa ampliação se torne um retrocesso democrático, enfraquecendo os mecanismos de responsabilização.
O impacto político da PEC
A retomada da PEC da impunidade reflete uma tentativa do Congresso de mostrar unidade em torno de pautas que interessam diretamente aos parlamentares. Essa estratégia, no entanto, pode ter custo político elevado diante da crescente pressão da sociedade por reformas que atendam a problemas concretos.
Além disso, o debate ocorre em meio à preparação para as eleições municipais e ao reposicionamento de forças políticas de olho em 2026. Assim, a condução dessa pauta pode influenciar diretamente a percepção dos eleitores sobre a atuação dos parlamentares.
Possíveis cenários
Especialistas apontam três cenários possíveis para os próximos dias:
- Aprovação rápida da PEC da impunidade – o que consolidaria a blindagem parlamentar, mas ampliaria a insatisfação popular.
- Retirada da pauta por pressão externa – o que demonstraria sensibilidade às críticas, mas revelaria falta de coesão política.
- Negociação de um texto alternativo – buscando equilibrar garantias parlamentares com limites mais claros à imunidade.
A reunião de líderes da Câmara dos Deputados expôs os dilemas atuais do Legislativo brasileiro: a tentativa de se blindar diante de investigações e, ao mesmo tempo, a necessidade de responder às pressões sociais por mais transparência e responsabilidade.
Enquanto a PEC da impunidade avança, a discussão sobre a anistia de 8 de janeiro segue em suspenso, revelando que o Congresso enfrenta não apenas desafios políticos, mas também uma crescente cobrança da sociedade por coerência e compromisso democrático.

CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.