Câmara e Senado: renovação política ou manutenção do status quo? Centrão consolida força no Congresso e ignora demandas sociais.
As eleições para a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal ocorrem hoje (01/02). Mas o que deveria ser um momento de renovação democrática e fortalecimento da representação popular parece cada vez mais uma disputa interna de classe. Em vez de refletir os anseios da sociedade, o processo se desenrola como um embate sindical. Onde os próprios parlamentares, sobretudo os do Centrão, defendem seus interesses corporativos, muitas vezes alheios às demandas urgentes da população.
Davi Alcolumbre (União Brasil) desponta como favorito para o comando do Senado, com apoio de oito bancadas, incluindo PT, PL e MDB. No total, esses partidos somam 69 dos 81 senadores, um indicativo claro da força das articulações nos bastidores. Do outro lado da Praça dos Três Poderes, Hugo Motta (Republicanos) é apontado como nome certo para a presidência da Câmara, com apoio do atual presidente Arthur Lira (PP-AL) e trânsito fácil entre diferentes espectros políticos.
A Política do Acordo e a Marginalização da Sociedade
O Centrão, bloco que reúne parlamentares de perfil fisiológico e pragmático, domina a cena política com acordos que garantem sua permanência no poder. A lógica do “toma lá, dá cá” prevalece sobre pautas essenciais como geração de emprego, desenvolvimento sustentável e distribuição de riquezas. Enquanto a população enfrenta desafios diários como inflação, desemprego e crise climática, as prioridades do Congresso continuam sendo definidas com base em interesses internos, muitas vezes favorecendo grandes grupos econômicos e políticos já estabelecidos.
Hugo Motta, por exemplo, conta com a simpatia de líderes do PL e PT, o que sinaliza uma continuidade da influência do Centrão sobre as decisões legislativas. No Senado, Alcolumbre se beneficia de um amplo arco de alianças, evidenciando que a disputa não é ideológica, mas sim estratégica. Em ambos os casos, a eleição dos novos presidentes das Casas Legislativas dificilmente resultará em uma agenda verdadeiramente comprometida com o bem-estar da população.
Eleições Definidas nos Bastidores
Com blocos partidários formados antes mesmo do pleito, o processo democrático perde parte de sua essência. A disputa já parece definida antes mesmo da votação formal. No Senado, a maioria absoluta necessária para a eleição é de 41 votos, número que Alcolumbre já supera com folga. Na Câmara, a situação é similar: com apoio de figuras influentes como Arthur Lira e Marcos Pereira, Hugo Motta caminha para uma vitória expressiva.
Essa centralização do poder nas mãos de um mesmo grupo político pode comprometer a independência do Congresso. Em vez de atuar como um espaço de debate plural e representação da sociedade, o Legislativo se transforma em um palco para negociações internas, onde a governabilidade depende da distribuição de cargos e favores.
E o Povo?
Diante desse cenário, fica a pergunta: onde está a representação popular nesse processo? Se as eleições legislativas servem apenas para reforçar um bloco de poder já estabelecido, qual o real impacto das escolhas do eleitor? A resposta é preocupante: enquanto a sociedade se vê à margem das decisões políticas, os interesses corporativos seguem ditando os rumos do país.
Se o Brasil deseja um Congresso mais alinhado com as necessidades da população, é fundamental que o debate político ultrapasse os muros de Brasília e envolva a sociedade de forma mais ativa. Caso contrário, continuaremos assistindo a um jogo de cartas marcadas, onde poucos decidem por muitos.
As eleições para o Congresso Nacional deveriam ser um reflexo da vontade popular, mas acabam sendo dominadas pelos interesses do Centrão e de grupos políticos consolidados. Com a vitória praticamente certa de Davi Alcolumbre no Senado e Hugo Motta na Câmara, fica evidente que o Legislativo se afasta cada vez mais de sua função primordial: representar os interesses da sociedade. Enquanto isso, temas como justiça social, geração de empregos e sustentabilidade seguem em segundo plano, reforçando a necessidade urgente de uma reforma política que devolva ao povo o verdadeiro poder de decisão.
CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.