Ouvi atentamente os apelos do Papa Francisco durante a tradicional Missa do Galo, mas ao que parece os governantes que operam as guerras em curso no mundo não o ouviram. O ano que começou encontra 2 guerras em curso (Israel x Palestina, Rússia x Ucrânia) que não parecem estar perto de acabar, mesmo após o apelo papal assistimos o bombardeio israelense com drones em pleno território libanês para atingir lideranças do Hamas.
As guerras são parte de um retrato maior, vivemos imersos em um mundo que acelerou, que arrasta uma crise de grandes proporções do capitalismo desde 2007, que começou com os subprimes estadunidenses e se espraiou por todo o mundo, quebrou nações e transformou em suco o que restava do Estado de Bem-Estar Social aqui e acolá pela Europa.
Tal crise não fechou até hoje, foi agudizada pela pandemia da Covid, pelas guerras e acabou por setores conservadores de várias nações encontrando um método e uma pauta, potencializados pelas redes sociais, internet e big data, defendendo soluções que tiram mais direitos, retomam o ideário neoliberal abandonado nos anos 90 do século passado, com o acréscimo de ingredientes calcados em preconceitos, antissemitismo e similares.
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Isso desembocou em experiências que se diziam ainda mais capitalistas do que os capitalistas de plantão em cada um dos países em que chegou ao poder. Ao assumirem o comando dessas nações foram logo em busca de diminuir a democracia, tirar poderes de parlamentos, instalarem semi-ditaduras. O exemplo mais recente é a tentativa de implantar praticamente uma “monarquia absolutista” na Argentina com Milei, que tenta governar por decretos, ao arrepio da justiça e do parlamento, querendo inclusive revogar o direito ao protesto e a reunião, consagrados na Constituição do país.
O que mais assusta é que o avanço da ultra-direita não parece ter chegado ao seu ápice, há de se buscar respostas mais consistentes para o enfrentamento do que se passa com o capitalismo mundial, que consiga se apresentar como alternativa viável para toda uma nova geração que surge em busca de emprego, de novas perspectivas, e que está muito ligada as formas e conteúdos veiculados pela internet. A desesperança é o combustível do motor ultraconservador, acaba por alçar ao poder figuras que chegam até a verbalizar que vão atacar mais e mais os direitos e conquistas, mas mesmo assim se elegem, assistimos uma espécie de autoflagelação dos povos, que no seu limite buscam a solução mais tosca e radicalizada, aqui no mal sentido dessa última palavra.
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Analisar esse fenômeno, que movimenta milhões pelos celulares do mundo todo, requer urgência, como tudo nesse novo mundo do século XXI que vive imerso nas telas 24 horas por dia, 7 dias por semana, que vive a plenitude de todas as nuances da nossa vida cada vez menos,
Dá quase vontade de rir quando assistimos no fim do ano que se encerrou empresas que hospedam a internet nos seus aparelhos apelando para que as pessoas desacelerem e vivam. A que ponto chegamos, capturados por nossos aparelhos, deixando de desfrutar o por do sol e as coisas belas da vida.
Saiamos das telas, retomemos as ruas, em defesa de países mais justos, democráticos e plurais. Não porque as empresas mandam, mas sim porque o mundo precisa. Feliz 2024.
Thiago Modenesi é Bacharel em Direito, Licenciado em História e Pedagogo, Especialista em Ciência Política, Doutor em Educação, Professor da UFPE.
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