Esposa do prefeito Mano Medeiros, Andréa usa base da gestão municipal para viabilizar candidatura estadual.

O uso da estrutura do poder público para alavancar projetos eleitorais familiares é uma prática antiga na política brasileira. Em períodos pré-eleitorais, é comum vermos gestoras e gestores lançando seus cônjuges, filhos, irmãos ou sobrinhos ao cenário eleitoral, quase sempre com o suporte de toda a máquina administrativa — equipes, obras, agendas públicas, programas sociais e contratos — operando como uma engrenagem a favor de um nome que, por coincidência ou conveniência, carrega o mesmo sobrenome ou dorme sob o mesmo teto.
O caso mais recente em Pernambuco ocorre em Jaboatão dos Guararapes, onde Andréa Medeiros, esposa do prefeito Mano Medeiros, se filiou ao PSD, partido comandado no estado pela governadora Raquel Lyra. A filiação ocorreu em clima de festa, com discursos emocionados, aplausos e palavras de incentivo sobre o “futuro feminino da política”. Mas o que está por trás dessa movimentação?
O que credencia uma figura pública a disputar uma vaga de deputada? Ela constrói essa credencial com sua trajetória, presta serviço à população, exerce liderança nas bases ou se aproxima de quem ocupa o gabinete principal da cidade?
Quando a máquina pública serve para eleger parentes
A história política de Jaboatão responde parte dessa pergunta. Em 2006, o então prefeito Nilton Carneiro usou o forte apoio da prefeitura para eleger sua filha Elina Carneiro deputada estadual. À época, a influência da gestão foi determinante para viabilizar sua campanha. Agora, quase vinte anos depois, o padrão parece se repetir: com grande visibilidade, presença constante em eventos públicos e apoio direto da estrutura administrativa, Andréa surge como pré-candidata à Assembleia Legislativa de Pernambuco.
Do ponto de vista legal, não há impedimento. Do ponto de vista ético, a discussão é outra.
Influência da estrutura pública no cenário eleitoral
Quando um prefeito — ou prefeita — usa a visibilidade do cargo, os eventos oficiais e as políticas públicas locais como vitrine para promover o nome de um familiar, cria-se um desequilíbrio de forças no processo democrático. Candidatos e candidatas sem acesso à máquina não conseguem competir de igual para igual. A disputa perde parte da legitimidade e se transforma numa corrida onde alguns já largam quilômetros à frente.
É importante refletir: a máquina pública existe para servir ao povo ou aos projetos pessoais de quem governa?
Naturalizar essas práticas é um risco. Elas alimentam o nepotismo eleitoral, corroem a confiança na política e consolidam dinastias locais, onde o poder circula entre poucos nomes, muitas vezes sem renovação real. O cidadão, nesse cenário, passa a ser visto não como sujeito político, mas como voto de manobra.
A democracia exige pluralidade, disputa justa e igualdade de condições. Quando a estrutura do Estado é usada como escada para interesses privados, rompe-se esse equilíbrio.
É papel da imprensa, da sociedade civil e dos próprios eleitores questionar: quem realmente está preparado para representar o povo — e quem apenas herdou o capital político familiar?

CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.
Sanchilis, antes da Elina, tivemos a esposa de Rodovalho, que nem o nome é lembrado – são projetos de natureza puramente familiar, sem conteúdo ou fundamentos que sejam do interesse público – votar na família do prefeito é dar mais poder a quem já tem muito poder – prefeito, deputado federal, até candidato a senador, a quem usa mal o poder … até onde vamos ?