quinta-feira, novembro 21

Já são oito os mortos na tragédia no Janga. Há desaparecidos

Uma Tragédia Anunciada

Foto: Sandy James/DP

A frase “uma tragédia anunciada”, infelizmente, nunca fez tanto sentido quanto nessa sexta-feira (7), após, em uma repetição terrível, mais um prédio do tipo “caixão” cair, na Região Metropolitana. Outra vez ocupado irregularmente, após ter sido condenado. Foi a sina do bloco D7 do Conjunto Beira-Mar, no bairro do Janga, em Paulista, que teve desabamento parcial às 6h17. O triste resultado: até o fechamento desta edição, oito mortos e três resgatados vivos dos escombros. E seis desaparecidos.
As últimas vítimas encontradas, na noite de sexta-feira, foram duas crianças: uma menina de cinco anos de idade e um menino de oito. As buscas não têm hora para acabar, segundo o Corpo de Bombeiros. E devem se estender pela manhã deste sábado. Além das duas crianças, morreram um adolescente de 12 anos, outro adolescente de 17, um homem de 21 anos, um homem de 45 anos, todos ainda não identificados, até o fechamento desta edição. Foram reconhecidas as vítimas: Maria da Conceição Mendes da Silva, de 43 anos, e Deivison Soares da Silva, de 19 anos, filho de Maria. Esse último morreu já no Hospital Miguel Arraes.
Durante o dia, mais de 50 militares do Corpo de Bombeiros, quatro cães de resgate e mais de 40 voluntários ajudaram nas buscas. Houve momentos de esperança, como no resgate, já à noite, de uma adolescente de 15 anos. Foram resgatados com vida uma mulher de 65 anos, levada ao Hospital Miguel Arraes, mas já transferida para o Real Hospital Português, e uma outra adolescente de 15 anos (irmão do morto de 12 anos), que ainda permanece internada no Hospital da Restauração, com quadro de saúde estável. Ela sofreu fraturas na bacia.

POR QUÊ

Emily é o nome dela. Há de ser confirmado se o menino e a menina, cujos corpos foram achados no fim da noite, são seus outros irmãos, Pedro e Esther, que estavam desaparecidos. A mãe dos quatro, Thaylane Ribeiro, que é cuidadora, saiu para trabalhar pouco mais de 15 minutos antes do desastre. Ao receber um telefonema de um parente, que mora próximo, voltou correndo, aos prantos. “Meu Deus, não era pra eu ter ido trabalhar. Por que o Senhor não me deixou morrer, também? É uma dor que eu não aguento. Por quê?”, questionou desesperada, ao ver a filha que sobreviveu ser levada pelo Samu, mas com o coração apertado com os outros. “Por que” é o que mais se ouviu e mais se ouvirá nos próximos dias, nesta nova tragédia. Dificilmente será respondido.
Há quem agradeça a sorte, por sua vez. “Eu estava dormindo e acordei com o prédio caindo. Abri a porta, mas já não tinha mais escadas, estava tudo caindo. Vieram alguns homens e pegaram meus filhos, para salvá-los. Eu me joguei pela janela. Minha, Dayane, também, ficando toda ferida, mas viva”, contou a dona de casa Tamires de França Melo, 25 anos.

16 APARTAMENTOS

Erguidos nos anos 1990, o prédio em questão, na Rua Luiz Inácio Andrade Lima, estava condenado pela Defesa Civil de Paulista desde 2010, após graves problemas estruturais (como em outros do mesmo conjunto). Tinha 16 apartamentos, sendo ao menos dez ocupados. O Conjunto todo tem 29 blocos. Sem ação da seguradora (no caso a Caixa), que tem a obrigação de fazer a segurança do imóvel, enquanto executa sua demolição, aconteceu o óbvio: foi invadido, em 2018. Após a queda, ontem, outros três blocos ao redor dos destroços do D7 foram interditados (de novo) e os moradores terão de sair (de novo) nas próximas horas. A Prefeitura de Paulista abriu abrigos públicos para receber as famílias que precisarem. A triagem para recebimento de auxílio-moradia também já começou.

Diario de Pernambuco

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