quinta-feira, julho 10

Trump alega déficit, mas EUA têm superávit com Brasil

Dados oficiais mostram superávit americano há 17 anos, contrariando justificativa de Trump para novas tarifas.

Estatísticas oficiais contradizem carta de Trump a Lula e mostram superávit dos EUA no comércio com o Brasil. Foto: EFE/EPA/JIM LO SCALZO / POOL

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) novas tarifas sobre produtos brasileiros, justificando a medida com a existência de um suposto “déficit insustentável” na balança comercial bilateral. Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump argumentou que as taxas serviriam para compensar barreiras impostas aos produtos americanos.

“Essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de políticas tarifárias e não tarifárias do Brasil, causando déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos”, escreveu Trump.

Contudo, dados oficiais do Comex Stat, sistema do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), mostram que há 17 anos os Estados Unidos têm superávit na balança comercial com o Brasil. Em 2025, o saldo parcial está em US$ 1,6 bilhão a favor dos americanos.

O histórico da balança comercial Brasil–EUA

De acordo com a série histórica iniciada em 1997:

  • Nos anos 2000, o Brasil chegou a registrar superávits superiores a US$ 9 bilhões.
  • A partir de 2009, o saldo virou negativo para o lado brasileiro, consolidando um padrão de superávits para os EUA.
  • Desde então, o fluxo de bens favorece consistentemente os americanos, que vendem mais do que compram.

Esses números contradizem a carta de Trump, que repete formulações usadas em comunicados a outros países, como o Japão, para justificar aumentos tarifários em uma estratégia mais ampla de política comercial.

O que dizem as autoridades brasileiras

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, contestou publicamente a justificativa americana.

“Os Estados Unidos têm realmente um déficit de balança comercial; mas, com o Brasil, têm superávit de balança comercial. Então o Brasil não é problema”, disse.

Alckmin também destacou que, entre os dez produtos que os EUA mais exportam para o Brasil, oito têm alíquota de importação zero por meio do regime ex-tarifário, que reduz impostos temporariamente quando não há produção nacional equivalente.

“Eu não vejo nenhuma razão para aumento de tarifa em relação ao Brasil. […] É uma medida injusta e prejudica a própria economia americana”, afirmou.

Perfil das exportações e importações

Segundo o Mdic, o perfil do comércio bilateral inclui:

  • Exportações brasileiras para os EUA: principalmente commodities e produtos primários, como petróleo bruto, café e bens de ferro e aço.
  • Importações do Brasil dos EUA: incluem itens de maior valor agregado, como componentes de aeronaves e equipamentos industriais.

Esse padrão reflete a estrutura produtiva dos dois países e as respectivas demandas de mercado.

As novas tarifas anunciadas por Trump são parte de uma estratégia protecionista mais ampla, que usa argumentos de déficit comercial como justificativa. Entretanto, no caso específico do Brasil, os dados oficiais revelam superávit consistente para os EUA desde 2009. Especialistas e autoridades brasileiras consideram a medida injustificada e potencialmente prejudicial para ambos os lados, abrindo espaço para tensões diplomáticas e negociações futuras.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *