Crianças de Escada, na Mata Sul, seguem sem apoio pedagógico para aprender a ler, mesmo com verba garantida pelo MEC.
A alfabetização de crianças na rede pública de Escada, município da Zona da Mata Sul de Pernambuco, governado por uma professora, a prefeita Mary Gouveia (PL), enfrenta sérios entraves. Apesar do lançamento do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada pelo Ministério da Educação (MEC), que propõe fortalecer a educação infantil com recursos, formação de professores e ambientes de leitura, a realidade local está distante dessas metas.
O que prevê o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada?
O programa federal foi criado para garantir que todas as crianças brasileiras estejam alfabetizadas ao final do 2º ano do ensino fundamental. Para isso, os municípios devem:
- Nomear um articulador local do programa;
- Implantar espaços de leitura nas escolas (“cantinhos de leitura”);
- Oferecer formação continuada aos professores;
- Utilizar os recursos repassados para ações pedagógicas.
Em Escada, ações não avançam
Segundo publicação do SindProme (Sindicato dos Profissionais da Rede Municipal de Ensino), até o ano de 2024:
- O município não havia nomeado um articulador para o programa;
- Nenhum espaço de leitura havia sido criado nas escolas da rede municipal;
- Recursos repassados pelo governo federal não resultaram em ações visíveis nas unidades escolares.
Queda nos investimentos por aluno
Outro ponto que preocupa é a redução dos valores investidos por aluno no ensino fundamental. Conforme dados divulgados pelo SindProme nas redes sociais:
- 1º bimestre: de R$ 2.493,14 por aluno em 2024, caiu para R$ 1.380,18 em 2025;
- 2º bimestre: de R$ 4.004,32 por aluno em 2024, reduziu para R$ 2.708,21 em 2025.
Essas quedas dificultam a ampliação de ações estruturantes para a alfabetização e refletem diretamente na capacidade de atendimento às crianças da rede pública.
Professores denunciam falta de estrutura e valorização
A professora Valéria Lima, que também é dirigente sindical, descreve as dificuldades enfrentadas diariamente por docentes nas escolas de Escada:
“Infelizmente não há um projeto de recomposição de aprendizagem em contra turno que pudesse auxiliar esses alunos no processo de alfabetização, não há qualquer material de apoio com proposta de alfabetização e sequer os professores têm material pedagógico suficiente.”
Segundo ela, faltam insumos básicos para o trabalho dos profissionais:
“Os professores, para poder dar sua aula, precisam comprar seu lápis para uso no quadro branco, comprar papel A4 e muitas vezes arcar com as impressões de atividades diferenciadas, pois nem sempre as escolas disponibilizam. Há escolas que têm uma UEX com valor muito pequeno, mas não há ajuda da Prefeitura quanto a isso e se vira como pode.”
Valéria também pontua que não se pode responsabilizar o professor pelos resultados da educação:
“Partindo desses pressupostos, não dá pra culpabilizar o professor pelos resultados aquém que existem hoje na Educação de Escada, até porque o professor já é vítima das circunstâncias.”
A dirigente acrescenta:
“O professor já é desvalorizado nos reajustes estipulados, trabalha desestimulado porque cada dia só vê seus direitos trabalhistas sendo atacados, como ocorre com a gratificação do magistério que foi congelada, e agora até a licença prêmio vem num grande impasse para a concessão. O professor trabalha em ambiente insalubre e ainda foi intitulado como sem vergonha quando simplesmente está lutando pelos seus direitos em certo discurso de abertura de semestre letivo.”
Administração municipal ainda não se pronunciou
A reportagem buscou contato com a Prefeitura de Escada e com a Secretaria Municipal de Educação, mas até o fechamento desta matéria não houve retorno. Também não foi encontrado, nos canais oficiais da Prefeitura ou no Portal da Transparência, um plano específico de implementação do programa federal de alfabetização.
Apesar dos recursos enviados pelo governo federal, o município de Escada-PE ainda não implementou ações fundamentais para garantir a alfabetização de crianças em idade escolar. A ausência de um articulador local, a falta de infraestrutura nas escolas e os relatos de precarização do trabalho docente contribuem para um cenário preocupante.
A alfabetização não pode esperar. A negligência no início da vida escolar pode gerar impactos duradouros no futuro educacional e social de toda uma geração.
CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.