quinta-feira, novembro 21

Violência política no Brasil cresce e atinge recorde em 2024

Pesquisa aponta 373 casos no 1º turno das eleições de 2024 no Brasil, com aumento significativo de assassinatos e atentados comparado a anos anteriores.

Crescimento alarmante: 373 ocorrências de violência política no primeiro turno das eleições de 2024 no Brasil.
Crescimento alarmante: 373 ocorrências de violência política no primeiro turno das eleições de 2024 no Brasil. Foto: TSE

A violência política no Brasil atingiu níveis alarmantes durante o primeiro turno das eleições de 2024. Conforme aponta a nova edição da pesquisa “Violência Política e Eleitoral no Brasil”. O estudo, realizado pelas organizações sociais Terra de Direitos e Justiça Global, registrou 373 ocorrências de violência política entre o início da campanha, em 16 de agosto, e o fechamento das urnas, em 6 de outubro.

Recorde histórico de violência eleitoral em 2024

A série histórica elaborada pela pesquisa revelou que 2024 é o ano mais violento já registrado, com 518 casos de violência política desde janeiro. Durante o período eleitoral, os números mais do que dobraram em relação ao pré-eleitoral, com 373 ocorrências, contra 145 nos meses anteriores. Esse aumento significativo reflete uma escalada preocupante no cenário político do país.

Os números também são muito superiores aos registrados em eleições anteriores. Em 2022, a média era de dois casos de violência política por dia. Já em 2024, ao menos sete pessoas foram vítimas de violência política diariamente durante o primeiro turno, totalizando 52 dias.

Assassinatos e atentados aumentam drasticamente

Um dos dados mais chocantes da pesquisa diz respeito ao aumento no número de assassinatos. Durante o primeiro turno de 2024, dez candidatos ou políticos foram assassinados, em comparação a apenas um caso registrado no mesmo período das eleições de 2022. Mais de 40% dos 24 assassinatos ocorridos este ano aconteceram durante o período eleitoral.

Além disso, os atentados, que somaram 100 ocorrências no primeiro turno, apresentaram um crescimento vertiginoso de 614% em relação a 2022, quando apenas 14 casos foram registrados. Esse aumento expressivo coloca os atentados como o segundo tipo de violência mais comum durante a campanha, superado apenas pelas ameaças.

Ameaças dominam os registros

As ameaças foram o tipo de violência política mais comum durante o primeiro turno, com 138 ocorrências, representando 37% dos casos. Esse dado demonstra como o ambiente político no Brasil se tornou mais hostil e perigoso, com candidatos e políticos em exercício enfrentando riscos constantes.

São Paulo foi o estado com o maior número de ocorrências, registrando 50 casos no total, seguido pelo Rio de Janeiro, com 38, e Paraíba, com 24.

A violência contra negros e mulheres

A violência política, embora atinja com mais frequência pessoas brancas, porém mostrou-se particularmente letal para a população negra durante o primeiro turno. Dos dez assassinatos registrados, por exemplo, oito das vítimas eram pessoas negras. No total, 44% das vítimas de violência política no período foram negras, o que soma 164 ocorrências.

Além disso, outro dado preocupante foi o aumento da violência direcionada às mulheres. Apesar de as mulheres representarem apenas 33,96% das candidaturas nestas eleições, ainda assim elas foram alvo de 35% dos casos de violência política, com 128 registros. A ameaça foi o tipo de violência mais comum entre as mulheres, com isso, foram contabilizados 56 casos. A pesquisa também identificou o vazamento de vídeos íntimos e montagens de nudez envolvendo candidatas, o que destaca o caráter misógino e sexualizado das agressões.

Escalada da violência no período eleitoral

O período de maior intensidade de violência política ocorreu entre 1º e 6 de outubro, às vésperas do primeiro turno. Durante esses seis dias, as autoridades contabilizaram 99 casos, ou seja, 16 ocorrências por dia, com um episódio de violência a cada 1h30. Este cenário, portanto, reflete o acirramento das disputas locais, principalmente nas eleições municipais, onde as rivalidades tornam-se ainda mais intensas.

Além disso, segundo Glaucia Marinho, diretora-executiva da Justiça Global, as eleições municipais são historicamente mais violentas devido às disputas locais. “Observamos uma tendência de maior violência nas eleições municipais, com notícias de intervenção de organizações criminosas no processo eleitoral, o que representa uma ameaça à democracia”, destaca.

Regiões mais afetadas pela violência política

A pesquisa também apontou que a violência política foi registrada em todas as regiões do país, com destaque para o Nordeste, que contabilizou 132 casos, seguido pelo Sudeste, com 117, e pelo Sul, com 51 ocorrências. O estado de São Paulo liderou o número de casos, seguido por Rio de Janeiro e Paraíba, que registrou um aumento significativo de ocorrências, subindo de 13º para 3º estado mais violento.

Perspectivas e desafios

O crescimento alarmante da violência política no Brasil coloca em evidência os desafios para garantir eleições seguras e justas. A interferência de organizações criminosas, a letalidade contra a população negra e o aumento da violência contra mulheres mostram a necessidade urgente de medidas eficazes para proteger candidatos e políticos em exercício.

Com o segundo turno se aproximando, o cenário permanece tenso, exigindo uma resposta rápida e coordenada das autoridades para garantir a integridade do processo eleitoral e a segurança de todos os envolvidos.

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