terça-feira, maio 20

MPPE investiga Escada por calote à Caixa Econômica

Prefeitura de Escada teria descontado valores de servidores e não repassado à Caixa, segundo investigação do MPPE.

Sindicato questiona gestão Mary por verba do precatório do Fundef em Escada. Foto: Divulgação
Sindicato questiona gestão Mary por verba do precatório do Fundef em Escada. Foto: Divulgação

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) instaurou um inquérito civil no último dia 28 de abril para investigar possíveis atos de improbidade administrativa e enriquecimento ilícito envolvendo ex e atuais gestores da Prefeitura de Escada, na Mata Sul do estado. A apuração decorre de um calote à Caixa Econômica Federal (CEF), relacionado a repasses não efetuados de empréstimos consignados de servidores municipais.

A investigação tem como base uma sentença da 34ª Vara da Justiça Federal de Pernambuco, que determinou o pagamento da dívida pela prefeitura, após ação movida pela CEF. Segundo os autos, o município descontava os valores dos contracheques dos servidores, mas não repassava ao banco.

Entenda o caso: o convênio e os repasses não feitos

Em janeiro de 2013 no governo do ex-prefeito Lucrécio Gomes (UB), a Prefeitura de Escada firmou um convênio com a Caixa Econômica para viabilizar empréstimos consignados a servidores municipais. A segunda cláusula do contrato previa o repasse dos valores ao banco até o quinto dia útil de cada mês, com aplicação de encargos adicionais em caso de atraso.

Apesar do desconto automático nos contracheques dos servidores, o município deixou de efetuar os repasses. Mais de 150 contratos foram afetados. A Caixa, diante da inadimplência, entrou com ação na Justiça Federal, cobrando inicialmente R$ 188.619,06, referentes aos meses de outubro, novembro e dezembro de 2018 e janeiro de 2019.

Decisão judicial e comunicação ao MPPE

Em setembro de 2021, a juíza federal Ethel Francisco Ribeiro, ao julgar a ação, determinou o pagamento da dívida por parte do município. Na decisão, a magistrada destacou a gravidade da conduta da gestão municipal e determinou o envio de ofício ao Ministério Público de Pernambuco para adoção de medidas cabíveis.

“Na parte final da sentença, o Juízo Federal determinou que fosse oficiado ao Ministério Público Estadual […] bem como os indícios de ato de improbidade administrativa consubstanciado em enriquecimento ilícito”, afirma o documento de instauração do inquérito.

Prefeita de Escada Mary Gouveia.
Prefeita de Escada Mary Gouveia. Foto: Divulgação

Investigação atual e pedido de esclarecimentos

Com a instauração do novo inquérito, o MPPE passou a apurar se houve má-fé ou omissão dolosa dos gestores, inclusive da atual prefeita Mary Gouveia (PL). O Ministério Público formalmente notificou a gestora a prestar esclarecimentos sobre os motivos da não regularização dos repasses e apresentar as medidas tomadas para sanar a dívida.

O MPPE também solicitou:

  • Relatórios dos repasses feitos à CEF, com datas e valores;
  • Documentos que comprovem eventual regularização da situação;
  • Ações administrativas ou judiciais adotadas para reparar o dano.

Posições das partes envolvidas

Procurada pela reportagem, a Caixa Econômica Federal informou, por meio de nota, que não comenta processos judiciais em andamento e que só se manifesta nos autos.

A reportagem também tentou contato com a defesa do ex-prefeito Lucrécio Gomes (UB), que chefiava o Executivo municipal à época da assinatura do convênio. Até o fechamento desta matéria, não houve resposta.

A Prefeitura de Escada foi procurada por meio dos seus canais oficiais, mas também não retornou os pedidos de esclarecimento.

Ex-prefeito de Escada Lucrécio Gomes durante abertura do ano legislativo na Câmara de Escada em 2014. Foto: Sanchilis Oliveira
Ex-prefeito de Escada Lucrécio Gomes durante abertura do ano legislativo na Câmara de Escada em 2014. Foto: Sanchilis Oliveira

O que está em jogo?

A investigação do MPPE pode levar à responsabilização civil e política dos envolvidos, caso se comprovem os indícios de:

  • Apropriação indevida de recursos descontados dos servidores;
  • Enriquecimento ilícito por parte de gestores;
  • Dano ao erário público, com prejuízos à Caixa e aos servidores.

Segundo especialistas ouvidos por veículos como Agência Senado, a apropriação de valores descontados em folha e não repassados à instituição financeira configura, em tese, crime de apropriação indébita e ato doloso de improbidade.

O inquérito civil do MPPE traz à tona questões delicadas envolvendo a gestão de recursos públicos e a responsabilidade dos gestores municipais. O caso de Escada será acompanhado de perto por órgãos de controle, servidores prejudicados e pela Justiça Federal.

A expectativa é que, com o avanço das investigações, sejam esclarecidos os fatos, delimitadas as responsabilidades e adotadas as medidas legais para reparação dos danos.

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