João Campos criticou o Estado, mas ignorou sua própria falha na gestão da segurança municipal.
O confronto ocorrido no último dia de janeiro entre as torcidas organizadas do Santa Cruz e do Sport abriu uma crise na segurança pública da capital pernambucana. Expondo lacunas, deficiências e a ausência de um planejamento estratégico eficiente por parte das forças de segurança estaduais e municipais. A Polícia Militar de Pernambuco, sob o comando da governadora Raquel Lyra (PSDB), e a Guarda Municipal do Recife, subordinada ao prefeito João Campos (PSB). Demonstraram falhas gritantes na prevenção e contenção da violência que deixou ao menos 13 feridos e transformou as ruas da zona norte do Recife em um cenário de guerra.
A resposta das autoridades foi marcada por um jogo de empurra-empurra que apenas escancarou a falta de coordenação entre os entes públicos. Em sua fala, o prefeito João Campos não hesitou em responsabilizar, ainda que indiretamente, a governadora Raquel Lyra. “É lamentável o ocorrido. É inadmissível ver cenas como essas acontecendo à luz do dia em qualquer cidade, principalmente no Recife. Fica nítido que houve falha de planejamento, de inteligência das forças de segurança estadual nessa construção”, declarou o gestor municipal. No entanto, em momento algum João Campos assumiu sua parcela de responsabilidade, ignorando que, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), a Guarda Municipal tem papel fundamental na segurança pública da cidade.
A Omissão da Prefeitura e a Guarda Municipal como Polícia Municipal
A Constituição Federal, no artigo 144, § 8º, estabelece que os municípios podem criar guardas municipais para a proteção de seus bens, serviços e instalações. Em 2023, o STF consolidou o entendimento de que as Guardas Municipais exercem atividade típica de segurança pública. Podendo atuar na prevenção e repressão de infrações penais e administrativas. Além disso, a Lei 13.022/2014, que institui o Estatuto Geral das Guardas Municipais, e a Lei 13.675/2018, que cria o Sistema Único de Segurança Pública, deixam claro que as Guardas Municipais integram o aparato da segurança pública no Brasil.
Dessa forma, não há justificativa para a ausência da Guarda Municipal do Recife no planejamento e execução de medidas preventivas para evitar o caos que se instaurou no último dia 01 de janeiro. A Guarda poderia, e deveria ter atuado no reforço da segurança, na organização do trânsito e na contenção de tumultos, mas sua presença foi tímida ou praticamente inexistente. Esse vácuo de atuação municipal demonstra não apenas despreparo, mas também um descompromisso da gestão João Campos com a segurança da cidade.
João Campos e a Falta de Compromisso com a Segurança Pública
A postura do prefeito João Campos diante do episódio revela uma incoerência que não pode ser ignorada. Ao apontar a falha da segurança estadual, ele tentou isentar sua gestão da responsabilidade que lhe cabe. Ignorando completamente que sua administração possui uma força de segurança armada e capacitada para atuar na proteção da cidade. O discurso político fácil e oportunista contrasta com a realidade dos fatos: a Guarda Municipal do Recife poderia ter sido um instrumento fundamental para minimizar os impactos do conflito, mas foi negligenciada pelo próprio prefeito que agora critica a atuação estadual.
O episódio reforça a necessidade de uma reformulação urgente no planejamento da segurança pública do Recife, com maior integração entre Estado e Município. Além de investimentos reais na inteligência e na prevenção da violência urbana. Acusar a governadora Raquel Lyra sem olhar para as próprias falhas não passa de uma estratégia política rasteira e desonesta. A população recifense não precisa de discursos oportunistas, mas de ações concretas e eficazes que garantam a paz e a ordem nas ruas da cidade.
Violência das torcidas organizadas
A violência entre torcidas organizadas é um problema antigo e complexo, que exige planejamento estratégico, inteligência policial e integração entre os diversos órgãos de segurança. No entanto, o que se viu no Recife foi a repetição de erros que poderiam ter sido evitados, acompanhada de um jogo de culpas que não leva a soluções reais. João Campos falhou ao não utilizar a Guarda Municipal como parte ativa da estratégia de segurança. Preferindo apontar o dedo para o governo estadual ao invés de assumir sua corresponsabilidade.
Enquanto as autoridades priorizarem discursos políticos em vez de ações concretas, cenas de barbárie como as do último dia de janeiro continuarão a se repetir, e quem pagará o preço será, como sempre, a população recifense.
Torcida liberada, mas segurança segue em xeque
A decisão judicial que derrubou a proibição do governo estadual sobre a presença de público nos jogos de Sport e Santa Cruz reabre uma discussão antiga: como garantir a segurança nos estádios sem comprometer a paixão do torcedor? O desembargador Fernando Cerqueira Norberto dos Santos, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), argumentou que os episódios de violência ocorreram fora do estádio e que punir os clubes sem um processo adequado feria o direito à ampla defesa. Mas será que a medida isolada resolverá o problema?
A governadora Raquel Lyra (PSDB) apostou em uma ação extrema ao impor cinco jogos com portões fechados, justificando a decisão com os violentos confrontos entre torcidas organizadas no último sábado (1º).
Saldo do conflito entre as torcidas
O saldo foi preocupante: 13 presos, 13 feridos e uma cidade refém da barbárie. O objetivo da punição era conter os episódios de violência que se repetem há anos no futebol pernambucano. Mas o Judiciário entendeu que a proibição atingia quem não deveria – os clubes e os torcedores que nada tinham a ver com os atos criminosos.
Agora, a liberação da torcida vem com exigências: biometria e reconhecimento facial nos estádios a partir de 1º de março, além de torcida única durante fevereiro. Medidas necessárias, mas que trazem um desafio logístico gigantesco para os clubes. Em um estado onde até a modernização do videomonitoramento nas ruas encontra entraves, será que os estádios estarão prontos para esse novo nível de fiscalização em menos de um mês?
A violência nos arredores do futebol não é um problema recente e tampouco será resolvida com uma única canetada, seja do Executivo ou do Judiciário. Sem um plano consistente de segurança, fiscalização e punição efetiva aos criminosos infiltrados nas organizadas, a rivalidade seguirá transbordando para a violência e o torcedor comum continuará temendo ir ao estádio. A pergunta que fica é: até quando?
Pergunta que não quer calar?
Se a Guarda Municipal tem atribuição de segurança pública, por que João Campos preferiu apontar culpados em vez de agir para prevenir a violência?
CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.