quarta-feira, julho 23

Exportações de SP, ES e CE afetadas por tarifa dos EUA

Nova tarifa americana de 50% atinge setores que exportam US$ 4 bi; Espírito Santo, SP e CE estão entre os mais afetados.

Novas tarifas dos EUA complicam cenário de exportações brasileiras e acendem alerta no setor produtivo nacional
Novas tarifas dos EUA complicam cenário de exportações brasileiras e acendem alerta no setor produtivo nacional. Foto: Reprodução/ SL2

Mais da metade das exportações de cinco importantes setores da economia brasileira vai para os Estados Unidos e será diretamente impactada pela sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente Donald Trump. Em 2024, essas indústrias movimentaram cerca de US$ 4 bilhões em vendas para o mercado americano, segundo levantamento da Folha de S.Paulo com base em dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) e do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).

A decisão de Trump, parte de uma estratégia de proteção à indústria americana em meio à sua campanha pela reeleição, atinge principalmente setores que têm os EUA como principal destino de seus produtos, o que deve gerar efeitos em várias cadeias produtivas do Brasil.

Exportações brasileiras altamente dependentes dos EUA

Segundo a Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio), os Estados Unidos compram produtos de 9.500 empresas brasileiras, com um volume total de US$ 20,3 bilhões em 2024. Entre os setores mais dependentes do mercado americano estão:

  • Materiais de construção (pedras, gesso, cimento, amianto e mica):
    US$ 802 milhões exportados, dos quais 65,4% para os EUA
    Destaque: rochas ornamentais e pedras de cantaria
    Estado mais afetado: Espírito Santo (84,4% das exportações)
  • Aeronaves e peças:
    US$ 2,6 bilhões exportados, 61,7% para os EUA
    Destaque: Embraer
    Estado mais afetado: São Paulo (91% das exportações)
  • Armas e munições:
    US$ 323,8 milhões exportados, 61,3% para os EUA
    Destaque: fabricante Taurus
    Estado mais afetado: Rio Grande do Sul (52,5%)
  • Peixes, crustáceos e moluscos:
    60,8% da produção vai para os EUA
    Estado mais afetado: Ceará (24% das exportações do setor)
  • Peles com pelos:
    54,5% das exportações vão para os EUA
    Estado mais afetado: Rio Grande do Sul (99% da origem dos produtos exportados)

Estados brasileiros mais vulneráveis à medida

Os dados também revelam quais unidades da federação mais dependem das exportações para os EUA, considerando o total da pauta exportadora de cada estado:

  1. Ceará – 44,9%
  2. Espírito Santo – 28,6%
  3. Paraíba – 21,6%
  4. São Paulo – 19%
  5. Sergipe – 17,1%

Comércio bilateral: Brasil também importa dos EUA

A relação comercial entre os dois países é de via dupla. Os Estados Unidos também têm forte presença nas exportações para o Brasil, com destaque para:

  • Fósforo – 88% do total exportado pelos EUA vai para o Brasil
  • Compostos derivados do metano, etano e propano – 81,8%
  • Pasta de cacau – 81,5%

Esses dados são da base United Nations Comtrade, especializada em estatísticas de comércio internacional.

Reações e perspectivas

Especialistas apontam que a sobretaxa poderá causar:

  • Redução na competitividade dos produtos brasileiros no mercado americano
  • Perda de contratos e parcerias comerciais
  • Pressão para redirecionamento das exportações a outros mercados
  • Impactos no emprego e na arrecadação em estados dependentes da pauta americana

Segundo analistas, setores como o de pedras ornamentais e o aeronáutico terão dificuldades para encontrar mercados alternativos com a mesma escala de demanda dos EUA. Representantes da indústria nacional pedem que o governo brasileiro negocie com Washington a revisão da medida ou ofereça contrapartidas para mitigar os impactos.

A sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada por Donald Trump impõe um desafio significativo à economia do Brasil, sobretudo para os setores altamente dependentes do mercado americano. Com US$ 4 bilhões em exportações diretamente atingidas, a medida exige resposta coordenada do governo federal, diálogo diplomático e estratégias de diversificação de mercados para conter os impactos no setor produtivo e nas economias regionais.

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