sábado, abril 12

Disputa interna abala o MDB de Pernambuco

Racha entre lideranças do MDB enfraquece sigla e coloca legado de Jarbas em disputa.

MDB de Pernambuco vice uma crise que poderá levar partido ao fracasso eleitoral. Foto: Divulgação
MDB de Pernambuco vice uma crise que poderá levar partido ao fracasso eleitoral. Foto: Divulgação

O MDB de Pernambuco, um dos partidos mais tradicionais do estado, atravessa um momento de turbulência que vai muito além de um simples desentendimento interno. A troca de farpas entre o ex-deputado federal Raul Henry e o deputado estadual Jarbas Vasconcelos Filho expôs um racha profundo e talvez irreversível na sigla. Mas o que está realmente em jogo nessa disputa?

De forma direta: o controle do partido e sua posição nas eleições de 2026.

Raul Henry x Jarbas Filho: quem herda o MDB?

De um lado, Raul Henry, atual presidente estadual do MDB, quer levar o partido a apoiar João Campos (PSB), prefeito do Recife, mirando a eleição do socialista ao governo do estado e sua crescente projeção nacional. Do outro, Jarbas Filho, com o apoio do senador Fernando Dueire, defende que o MDB se alinhe à governadora Raquel Lyra (PSD), fortalecendo sua base no interior e sua presença no governo estadual.

Em uma nota agressiva, Jarbas Filho acusou Raul Henry de ingratidão, oportunismo e de ter se valido da estrutura partidária construída por seu pai, Jarbas Vasconcelos, para alavancar sua carreira política. Disse ainda que Henry ocupou cargos estratégicos no governo Raquel Lyra e logo depois pulou para o barco de João Campos em troca de vantagens. Foi direto ao ponto ao chamá-lo de “usurpador”.

Raul Henry respondeu no mesmo tom. Disse que Jarbas, seu aliado por 35 anos, está fora da política por problemas de saúde e que usá-lo como escudo político é “uma das maiores indignidades que Pernambuco já viu”. Reforçou que sempre foi leal ao ex-governador e insinuou que Jarbas Filho está instrumentalizando o pai, uma figura respeitada, para se projetar internamente.

Briga pessoal ou disputa de projeto político?

Na superfície, parece uma briga pessoal — e de fato, o tom das notas é mais emocional do que ideológico. Mas há muito mais em jogo. Trata-se de uma batalha pelo rumo do MDB e, sobretudo, pela hegemonia de um grupo dentro do partido.

Jarbas Filho tenta consolidar seu espaço como liderança jovem e legítimo herdeiro político do pai. Henry, por sua vez, representa a velha guarda do MDB, com capital político acumulado e alianças mais amplas — inclusive com o PSB, adversário histórico do jarbismo.

O que chama a atenção é que, enquanto a disputa interna se acirra, o MDB perde musculatura. Fragmentado e sem unidade, corre o risco de se tornar um partido satélite, à mercê das alianças mais convenientes, sem projeto próprio de poder.

João Campos ou Raquel Lyra? O dilema estratégico

Ambos os lados têm argumentos sólidos. Apoiar João Campos pode ser apostar em um nome com projeção nacional, jovem, popular e bem avaliado, além de ser hoje o principal nome para disputar com a governadora. Já ficar com Raquel Lyra significa fortalecer laços com o governo estadual, que tem boa interlocução com prefeitos e lideranças do interior — um trunfo importante para 2026.

Mas esse cálculo eleitoral, por mais legítimo que seja, está sendo eclipsado por vaidades e ressentimentos. O partido que já foi símbolo de estabilidade e liderança política em Pernambuco agora se vê preso em disputas internas que arranham sua imagem e ameaçam seu futuro.

O MDB entre o legado e o novo

No fundo, o racha é uma metáfora viva da crise que muitos partidos tradicionais enfrentam no Brasil. Presos entre a reverência ao passado e a dificuldade de se reinventar, acabam enfraquecidos. O MDB de Pernambuco é um exemplo claro: enquanto seus quadros brigam pelo espólio político de Jarbas Vasconcelos, o partido segue sem uma identidade clara e sem diálogo com a sociedade.

Se não resolver suas disputas com maturidade e não abrir espaço para novos quadros e novas ideias, o MDB corre o risco de se tornar irrelevante — prisioneiro da memória de um grande líder e refém das vaidades de seus herdeiros.

Pergunta que não quer calar:

O MDB de Pernambuco sobrevive a seus próprios herdeiros?


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