Bolsonaro é reflexo de processos psíquicos inconscientes que validam preconceitos e tornam o ódio parte da identidade de seus apoiadores.

O fenômeno Bolsonaro não pode ser entendido apenas no campo político. Ele simboliza a legitimação de preconceitos e intolerâncias que sempre estiveram presentes na sociedade brasileira. O discurso agressivo contra mulheres, negros, indígenas e LGBTQIA+ não afasta seus apoiadores — pelo contrário, reforça a adesão de um eleitorado que busca, acima de tudo, alguém que valide seus ressentimentos.
Ao contrário do que seus seguidores proclamam, Bolsonaro não é mito. Ele representa o reflexo de uma parcela do Brasil que rejeita o conhecimento, teme a diversidade e encontra na violência uma forma de identidade.
A identificação com o líder segundo Freud
Na obra “Psicologia das Massas e Análise do Eu” (1921), Sigmund Freud explica que o líder se torna objeto de identificação narcísica. O eleitor projeta nele aquilo que gostaria de ser ou aquilo que inconscientemente já é. Assim, as falas violentas e preconceituosas de Bolsonaro funcionam como autorização para liberar pulsões reprimidas.
Essa relação não é racional, mas afetiva e inconsciente. A base bolsonarista encontra no líder um espelho para seus desejos ocultos, transformando a barbárie em bandeira política.
Projeção e ódio às minorias
Outro conceito central da psicanálise é a projeção. Para Freud, trata-se de um mecanismo pelo qual o sujeito expulsa conteúdos internos indesejados, atribuindo-os ao “outro”.
No caso do bolsonarismo, medos e inseguranças individuais são deslocados para grupos minoritários. O ódio ao outro é, na verdade, uma tentativa de negar a própria fragilidade. Dessa forma, atacar mulheres, negros ou LGBTQIA+ passa a ser, inconscientemente, uma forma de defesa psíquica.
O gozo da violência em Lacan
Jacques Lacan ajuda a compreender outra dimensão do fenômeno: o gozo (jouissance). O prazer inconsciente que emerge da violência simbólica, do deboche e da transgressão da norma civilizatória.
O eleitor de Bolsonaro encontra satisfação em rir da dor alheia, em desafiar a ciência e em negar direitos. Esse gozo não é racional, mas está ligado ao que Freud chamou de pulsão de morte — a tendência inconsciente ao caos, à destruição e ao retrocesso.
O bolsonarismo como sintoma social
Bolsonaro encarna a figura do “pai da horda primitiva” (Freud): concentra poder e, ao mesmo tempo, libera a violência de seus seguidores. Esse vínculo inconsciente explica por que a argumentação racional, baseada em dados e ciência, não convence os bolsonaristas.
O bolsonarismo, portanto, deve ser entendido como um sintoma social: a materialização da ignorância coletiva, sustentada por processos inconscientes de identificação, projeção e gozo.
O desafio de superar a ignorância
O verdadeiro desafio não é apenas derrotar Bolsonaro nas urnas, mas superar os laços psíquicos que sustentam o bolsonarismo. Isso passa por:
- Educação crítica e emancipadora;
- Fortalecimento da democracia;
- Espaços de escuta e diálogo;
- Alternativas sociais que ofereçam novas formas de identificação.
Sem isso, Bolsonaro continuará sendo não o mito, mas o retrato mais evidente daquilo que o Brasil precisa superar: a ignorância transformada em identidade coletiva.

CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.