Prefeitura de Escada prevê gasto de mais de R$ 1 milhão na festa do Sagrado Coração, gerando debate sobre prioridades e uso da verba pública.

A Prefeitura de Escada, na Mata Sul de Pernambuco, planeja investir mais de R$ 1 milhão na realização da tradicional festa do Sagrado Coração de Jesus. Somente com a contratação de três atrações musicais, o valor estimado chega a R$ 770 mil, conforme documentos públicos obtidos pela reportagem. Os custos adicionais incluem montagem de palco, som, iluminação, publicidade e logística.
O montante levantou questionamentos entre moradores e representantes da sociedade civil, que apontam a necessidade de maior transparência e equilíbrio na aplicação dos recursos públicos. Especialmente diante das dificuldades enfrentadas por diversos bairros da cidade.
Críticas sobre prioridades na gestão municipal
A principal preocupação expressa por parte da população está relacionada à escolha de prioridades orçamentárias. Em localidades como Jaguaribe, Nova Cidade, Firmeza e Maracujá, moradores relatam a ausência de praças públicas, áreas de lazer, quadras esportivas e drenagem adequada.
Nos períodos de chuva, a falta de estrutura agrava problemas de alagamentos. Em contrapartida, o investimento milionário na festividade religiosa é visto como desproporcional em relação às carências da cidade.
Polêmica sobre atrações musicais
Outro ponto que gera debate é a seleção dos artistas contratados. Entre os nomes confirmados, está um cantor conhecido por músicas com letras que abordam temas de conotação sexual, consumo de drogas e reforço de estereótipos de gênero.
Uma das canções mais populares do artista traz versos que muitos consideram incompatíveis com o caráter religioso do evento. Líderes comunitários e fiéis argumentam que o conteúdo não condiz com os valores celebrados na festividade do Sagrado Coração de Jesus. Tradicionalmente marcada por expressões de fé, devoção e espiritualidade.
Vozes da comunidade
Alguns moradores defendem a realização de festas populares como forma de movimentar a economia local, gerar empregos temporários e atrair visitantes, o que pode beneficiar setores como comércio e turismo.
Por outro lado, há quem critique a discrepância entre o gasto elevado e a ausência de investimentos em políticas públicas. Segundo relatos, jovens e crianças da cidade não dispõem de espaços adequados para lazer e prática esportiva.
Um líder comunitário ouvido pela reportagem afirmou:
“Não somos contra a festa, mas sim contra a falta de planejamento. Enquanto algumas áreas da cidade continuam esquecidas, o dinheiro é aplicado em shows milionários.”
Aspectos legais e responsabilidades
A destinação de verbas públicas para eventos culturais e religiosos é permitida por lei, desde que seja realizada com transparência, critérios objetivos e observância ao princípio da moralidade administrativa.
Especialistas em direito público apontam que, em casos como este, cabe aos órgãos de fiscalização. Entre eles o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) — avaliar se houve excesso ou desvio de finalidade nos contratos.
De acordo com analistas, a celebração de festas pode ser considerada um investimento cultural, mas precisa estar acompanhada de uma gestão equilibrada que não comprometa serviços essenciais à população.
Contexto socioeconômico de Escada
O município de Escada tem enfrentado desafios sociais e estruturais, como deficiências em saneamento básico, educação e segurança. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que parte significativa da população convive com baixa renda e precariedade em serviços públicos.
Nesse cenário, os gastos da prefeitura chamam atenção justamente por serem considerados altos em relação ao orçamento destinado a outras áreas prioritárias.
Impactos culturais e sociais da festa
As festas religiosas possuem forte papel cultural e simbólico em cidades do interior de Pernambuco. O evento do Sagrado Coração de Jesus é tradicional e reúne milhares de fiéis todos os anos. Funcionando como espaço de encontro social e expressão da fé.
Contudo, a presença de artistas cujas músicas não guardam relação com o caráter espiritual da celebração levanta questionamentos sobre o equilíbrio entre tradição religiosa e entretenimento popular.
Debate sobre políticas públicas
A discussão em Escada reflete um dilema comum em várias cidades brasileiras: como conciliar o investimento em eventos culturais e religiosos com as demandas urgentes de infraestrutura e qualidade de vida.
Especialistas defendem que é possível investir em cultura sem comprometer serviços básicos, desde que haja planejamento participativo, escuta da população e definição de prioridades claras.
O que dizem as autoridades
Até o fechamento desta reportagem, a Prefeitura de Escada não havia emitido nota oficial detalhando os custos totais do evento, nem se pronunciado sobre as críticas à escolha das atrações musicais.
A reportagem entrou em contato com o Ministério Público de Pernambuco, que informou que pode analisar eventuais representações ou denúncias relacionadas aos gastos da prefeitura.
A realização da festa do Sagrado Coração de Jesus em Escada coloca em evidência a necessidade de um debate mais amplo sobre o uso dos recursos públicos, a transparência na gestão municipal e a definição de prioridades sociais.
Enquanto parte da população valoriza o evento por seu aspecto cultural e econômico, outra parcela cobra maior responsabilidade fiscal e investimentos em áreas essenciais como saúde, educação, lazer e infraestrutura.
A questão permanece em aberto e deve continuar gerando discussões entre comunidade, autoridades e órgãos de fiscalização.

CEO do Portal Fala News, Jornalista pela UNIFG, licenciado em Letras PT/ES pela FAESC, formado em psicanálise pela ABEPE, pós-graduado em linguística aplicada as línguas portuguesa e espanhola pela FAESC, e MBA em Marketing Digital e Mídias Sociais pela UniNassau. Analista de política e economia, colunista sobre psicanálise, amante dos livros e dedicado a levar informação com transparência e credibilidade.