sábado, julho 26

Trump usa PIX como pretexto para taxação

Pix é citado por órgão dos EUA como prática desleal. Investigação avalia se Brasil favorece serviço local em detrimento de empresas americanas.

EUA questionam concorrência do Pix no Brasil
EUA questionam concorrência do Pix no Brasil. Foto- Divulgação

O governo dos Estados Unidos incluiu o Pix em um processo de investigação comercial contra o Brasil. O Escritório da Representação Comercial dos EUA (USTR) citou o sistema brasileiro de pagamentos instantâneos como exemplo de prática potencialmente desleal que favorece empresas locais em detrimento de concorrentes estrangeiras.

De acordo com o relatório do USTR, o Brasil “parece se engajar em uma série de práticas desleais com relação aos serviços de pagamento eletrônico, incluindo, mas não se limitando a favorecer seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo” [USTR].

A acusação integra um procedimento de investigação mais amplo sobre barreiras comerciais enfrentadas por empresas americanas no Brasil, incluindo requisitos regulatórios, subsídios e políticas que poderiam distorcer a concorrência.

Contexto do lançamento do Pix

O Banco Central do Brasil (BC) iniciou os estudos sobre o Pix antes da pandemia de Covid-19. Em 28 de maio de 2020, publicou as primeiras regras, incluindo:

  • Homologação das instituições participantes
  • Testes e simulações entre bancos

Pouco depois, em 15 de junho de 2020, o Facebook (hoje Meta) anunciou o lançamento do WhatsApp Pay no Brasil. Cartões Mastercard e Visa, empresas norte-americanas, operariam o serviço, tornando o Brasil o primeiro mercado fora da Índia a receber a solução de pagamentos.

No entanto, em 23 de junho de 2020, o Banco Central e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) determinaram a suspensão do serviço. Os motivos citados foram:

  • Avaliação de riscos sistêmicos
  • Garantia de funcionamento adequado do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB)
  • Potenciais impactos sobre a concorrência

Durante esse período, o BC avançou com os testes do Pix, abriu o cadastramento de chaves em outubro de 2020 e lançou oficialmente o sistema em 16 de novembro de 2020, com a adesão de mais de 700 instituições financeiras.

A volta do WhatsApp Pay e a adoção popular do Pix

Em março de 2021, o Banco Central autorizou o WhatsApp Pay a funcionar para transferências entre pessoas físicas. O serviço voltou ao mercado meses depois, mas enfrentou dificuldades para conquistar os usuários brasileiros, que já haviam aderido massivamente ao Pix. Dados do BC indicam que:

  • Em poucos meses, o Pix superou 1 bilhão de transações mensais
  • O sistema é utilizado por mais de 150 milhões de pessoas no país

Diferentes visões sobre o caso

A investigação do USTR reascende o debate sobre concorrência e soberania regulatória. Para o governo brasileiro, as medidas do Banco Central foram técnicas e visavam garantir a segurança e a estabilidade do SPB. Argumenta-se que o Pix:

  • É aberto a qualquer instituição financeira ou fintech
  • Segue regras de interoperabilidade
  • Incentiva inovação e inclusão financeira

Por outro lado, empresas americanas apontam que as decisões de suspensão do WhatsApp Pay em 2020 criaram barreiras práticas, atrasando sua consolidação no mercado brasileiro e favorecendo o Pix, desenvolvido pelo próprio BC.

Possíveis consequências

A investigação comercial americana não resulta, automaticamente, em sanções ou mudanças de política, mas pode:

  • Levar a negociações bilaterais para ajustes regulatórios
  • Justificar medidas compensatórias ou tarifas
  • Influenciar acordos multilaterais sobre comércio de serviços

Analistas apontam que o caso deve ser acompanhado de perto, dada a relevância do mercado de pagamentos digitais, que movimenta bilhões de dólares ao ano no Brasil.

O Pix se tornou um sucesso nacional, mas agora está no centro de uma investigação comercial internacional. Enquanto os EUA alegam tratamento desigual para empresas americanas, o governo brasileiro defende a regulação prudencial e a inovação no sistema financeiro.

O desfecho dependerá de negociações diplomáticas e da capacidade de equilibrar segurança regulatória, inovação e livre concorrência.

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