quarta-feira, março 12

Lula reforça compromisso com preços justos para alimentos

Lula critica atravessadores na cadeia produtiva e promete investigar causas da alta dos preços dos alimentos.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita às áreas de produção de goiaba, café e milho em Campo do Meio. Campo do Meio - MG.Foto: Ricardo Stuckert / PR
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita às áreas de produção de goiaba, café e milho em Campo do Meio. Campo do Meio – MG. Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou, mais uma vez, seu compromisso com a segurança alimentar dos brasileiros ao abordar a alta nos preços dos alimentos, em especial dos ovos. Suas declarações, feitas durante um evento em Campo do Meio (MG), mostram um governo atento à escalada dos custos básicos e disposto a intervir caso medidas convencionais não sejam suficientes para garantir preços acessíveis à população. No entanto, mais do que um desabafo presidencial, as falas de Lula levantam uma discussão crucial sobre a estrutura do mercado de alimentos no Brasil e os entraves que impedem que a produção agrícola nacional beneficie diretamente os consumidores.

A inflação dos alimentos no Brasil é um problema crônico que afeta, principalmente, as camadas mais pobres da sociedade. O aumento do preço dos ovos é um exemplo concreto dessa realidade. Segundo o próprio presidente, o valor de uma caixa com 30 dúzias saltou de R$ 140 para R$ 210 entre janeiro de 2023 e fevereiro de 2025, uma elevação significativa que impacta diretamente milhões de brasileiros que veem o ovo como uma alternativa mais acessível à carne. Diante desse cenário, Lula demonstrou inquietação legítima ao questionar os motivos por trás dessa alta e apontar a necessidade de uma investigação mais detalhada sobre os agentes que lucram excessivamente na cadeia produtiva.

Atravessadores: O Grande Gargalo do Setor Alimentício

O termo “atravessadores” usado por Lula não é novidade quando se fala em preços abusivos de alimentos. No Brasil, grande parte do encarecimento dos produtos agrícolas não ocorre na produção, mas sim nos elos intermediários da cadeia de distribuição. Do pequeno produtor até o consumidor final, há uma série de agentes que agregam custos sem necessariamente contribuir para a qualidade ou a quantidade da oferta. São redes de distribuição, atacadistas, revendedores e até práticas especulativas que distorcem os preços reais do mercado.

Quando Lula afirma que seu governo pode adotar “medidas mais drásticas” caso não encontre uma solução pacífica para o problema, ele sinaliza a possibilidade de intervenções regulatórias mais rígidas. Medidas como a fiscalização mais intensa sobre os preços praticados, o incentivo a feiras populares diretas do produtor ao consumidor e até mesmo políticas de tabelamento emergencial podem estar na mesa de discussão.

O presidente, portanto, acerta ao destacar que não deseja prejudicar os produtores, mas, pelo contrário, identificar quem está inflacionando os preços de maneira desproporcional. De fato, os custos de produção vêm aumentando progressivamente, especialmente devido à alta do milho (base da ração das galinhas), das embalagens e das oscilações climáticas extremas. Nesse sentido, temperaturas recordes têm impactado diretamente a produtividade das aves, agravando a situação. No entanto, é fundamental ressaltar que esses fatores, por si só, não explicam o aumento tão expressivo no preço final pago pelos consumidores.

Isenção de Impostos: Um Caminho Viável?

Uma das medidas já anunciadas pelo governo federal para conter o aumento dos preços dos alimentos foi a isenção do imposto de importação sobre nove itens essenciais, incluindo café, azeite, açúcar, milho e carnes. A estratégia visa ampliar a oferta e, consequentemente, reduzir os preços ao consumidor. No entanto, essa política tem limitações, pois, além do impacto ser diluído ao longo do tempo, pode afetar a competitividade da produção nacional.

Por isso, a solução para o problema não pode se restringir apenas a medidas de importação, mas precisa incluir um redesenho da logística de abastecimento interno. Fortalecer a agricultura familiar, garantir estoques reguladores e ampliar os mecanismos de venda direta entre produtores e consumidores são ações que podem reduzir a dependência do mercado intermediário e, consequentemente, baixar os preços.

A Responsabilidade do Estado na Segurança Alimentar

O debate levantado por Lula reforça a necessidade de o Estado atuar como regulador de um setor tão essencial como o de alimentos. Diferente do que argumentam setores mais liberais da economia, a alimentação não pode ser tratada apenas como uma mercadoria sujeita às regras de oferta e demanda do livre mercado. A comida é um direito básico, e cabe ao poder público garantir que a população tenha acesso a ela sem depender de especulações abusivas.

A experiência brasileira já demonstrou que políticas públicas voltadas para a segurança alimentar geram resultados positivos. Durante os primeiros governos de Lula e Dilma Rousseff, programas como o Fome Zero e o fortalecimento da agricultura familiar ajudaram a reduzir a fome no país, tornando o Brasil uma referência no combate à insegurança alimentar. No entanto, nos últimos anos, o país voltou ao Mapa da Fome da ONU, o que demonstra a necessidade de retomada e ampliação dessas políticas.

Além disso, o presidente tem razão ao destacar que não basta garantir preços baixos; é preciso também assegurar que os produtores recebam um valor justo por sua produção. Esse equilíbrio só será possível se houver um enfrentamento real às distorções da cadeia produtiva e se forem adotadas políticas que incentivem a produção sustentável, com preços acessíveis e sem prejuízos ao agricultor.

Um Governo Atento às Demandas do Povo

A fala de Lula sobre o preço dos ovos pode parecer um detalhe menor dentro de uma agenda presidencial extensa, mas carrega um significado profundo. Ela mostra que o governo está atento ao que realmente afeta o cotidiano da população e disposto a tomar medidas concretas para garantir que a comida chegue à mesa de todos.

O caminho para resolver esse problema passa por uma combinação de fiscalização, incentivos à produção nacional, mecanismos regulatórios e políticas de proteção ao consumidor. Mais do que simplesmente buscar culpados, o governo precisa atuar para equilibrar o mercado e evitar que a alimentação se torne um privilégio em um país que tem todas as condições de garantir comida de qualidade para todos.

Se a preocupação do presidente se transformar em ações eficazes, Lula poderá reafirmar seu legado como o líder que não apenas tirou milhões da fome no passado, mas que também garantiu que o Brasil nunca mais voltasse a enfrentar essa triste realidade.

Pergunta que não quer calar: quem, de fato, está lucrando com a alta dos preços dos alimentos enquanto a população sofre para garantir o básico na mesa?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *